domingo, 26 de dezembro de 2010

>>> con$umo >>>

Natalixo
O nosso lixo natalino continua em algum lugar de nossa cidade

Festas de fim de ano. Ceias + presentes + embalagens = lixo. A rotina diária de jogar o lixo "fora" ganha mais importância nesses dias. O cidadão educado tem o cuidado de não jogá-lo nas calçadas ou nas ruas, mas sim de separá-lo para a coleta municipal. Mas quem disse que o nosso lixo é jogado "fora"? Ele continua no município, mas longe de nossa visão.

Na maioria dos municípios brasileiros, ainda funciona o chamado "lixão", um local onde são despejados todos os resíduos coletados, orgânicos ou não. Multiplique o seu lixo pela quantidade de habitantes de sua cidade; imagine, ainda, os restos de restaurantes e comércio; agora pense num terreno que receba tudo isso, e na contaminação de solo, água, ar e doenças.

Outra boa parte dos municípios dispõe de aterro controlado e uma minoria, de aterro sanitário. Isso significa que o lixo é coberto e o líquido que escorre dele é tratado, dentre outras providências paliativas. Apenas paliativas, porque o solo continuará sendo usado e demandando cada vez mais espaço para depositar as sobras humanas.

Nossos restos continuam no município, ocupando espaço, propagando doenças e podendo contaminar o que bebemos e comemos. É como o ícone "lixeira", do computador: não adianta jogar um vírus para lá, pois ele continuará infectando o cpu. O melhor é evitar. Mas o Natal já passou e a primeira parte do estrago já está feita - o consumo -, então é hora de tratar o lixo em nossas casas.

Embalagens diversas podem ser reutilizadas. Garrafas pet e potes de sorvete podem virar vasos. Restos orgânicos viram adubo grátis - basta colocá-los, cobertos por terra e folhas secas, num balde de lixo ou algo parecido. Em casa ou no apartamento.

E, se faltar ânimo para "perder" alguns segundos jogando o lixo em casa, que tal perder alguns minutos visitando o lixão de sua cidade?

Texto: Rogério Alvarenga
Foto: Michelly Renne, aterro de Poços de Caldas (MG)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

>>> Natal >>>

Então é Natal

Belquior, ou simplesmente Bel, gosta do Natal. É o único dia do ano em que ganha presentes, come bem e recebe atenção dos pais. Bel ainda não tem idade para entender por que isso não acontece nos outros dias, quando o pai chega bêbado e bate na mãe. Quando a mãe, nervosa, bate em Bel. Presentes ao longo do ano, nem pensar. Um prato de comida já é um privilégio.

Baltazar celebra o Natal com fartura e abundância. Muito peru, chester, doces, gordura, prazer. Melhor sobrar do que faltar. A taxa de colesterol é alta; o açúcar, de pré-diabético. Até tenta evitar que as sobras virem lixo, mas após três ou quatro dias, resta aos seres humanos à parte da sociedade disputarem os restos na lixeira da rua.

Gaspar tem muitos amigos e parentes. Ao longo do ano, não os encontra, nem sabe o que estão fazendo da vida. Não gosta de alguns deles - até fala mal. "Sabe o fulano? Ele não presta!" Nas vésperas do Natal, entretanto, gasta o décimo terceiro e as poucas horas de folga para enfrentar filas e presentear amigos e parentes - inclusive aqueles que "não prestam". A multiplicação do pão dá espaço à praga das embalagens.

Maria respeita a celebração religiosa do Natal, mas não consegue vê-la por trás de tantos presentes, ceias e esforçados trabalhadores barbados falando "hohoho" ao som de "Então é Natal". Não se sente obrigada a comprar presentes, perus, nem a levar seu filho pra sentar no colo de algum desconhecido. Por isso, Maria economiza tempo e dinheiro durante o Natal, para compartilhá-los ao longo do ano com quem precisa. E com sinceridade.

Então... é Natal!

Qual é o seu?

Texto: Rogério Alvarenga

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

>>> acessibilidade >>>

Uma cartilha para todos
Informativo chama atenção para o direito das pessoas com deficiência

"Eu sempre fui discriminada na escola, inclusive pelas pessoas que eu achava que eram minhas amigas, mas isso só serviu para me fortalecer. Aprendi a gostar de mim do jeito que eu sou e aceitar a minha deficiência." Esse depoimento, de uma aluna de pós-graduação da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), está presente na cartilha Da Necessidade Especial ao Direito, e reflete as barreiras que as pessoas com deficiência encontram ao longo da vida. Oito mil exemplares já foram distribuídos na UFSJ, e a partir do início de 2011 mais dois mil chegarão também a escolas, indústrias, comércio, hotéis e restaurantes. O material pode ser acessado pelo site www.ufsj.edu.br/incluir.

Muitos transtornos poderiam ser evitados se os direitos básicos fossem conhecidos pelos cidadãos, afirma a coordenadora do Programa, Maria Nivalda de Carvalho Freitas. Através da cartilha, pretende-se chamar a atenção para o direito que as pessoas com deficiência (física, auditiva, visual, intelectual ou múltipla) têm à autonomia, à independência, a fazer suas escolhas, estudar, trabalhar e compartilhar lazer e relações afetivas. O material aborda seis temas: políticas públicas; educação; trabalho; acessibilidade urbana e arquitetônica; informação e comunicação; lazer e turismo.

As adaptações para atender às pessoas com deficiência devem estar presentes no trabalho e no ambiente urbano - o que inclui espaços de lazer e transporte público. Adaptar os ambientes físicos, sinalizar, realizar treinamentos e dar oportunidade de crescimento a todos são algumas das modificações necessárias numa empresa para superar as barreiras físicas, de comunicação e de concepções preconceituosas. A cartilha convida o leitor à reflexão: "quando você é o responsável pelo planejamento de uma nova atividade ou um novo projeto na sua escola, universidade ou trabalho, a acessibilidade é levada em consideração?".

Há experiências que respondem de forma afirmativa. É o caso da cidade de Socorro (SP), adaptada para o ecoturismo e o turismo de aventura para pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida. Outros exemplos por todo o mundo, como transporte coletivo 100% adaptado, práticas esportivas e turísticas, acessibilidade em patrimônios tombados, podem ser conferidos no site http://turismoadaptado.wordpress.com.

Texto: Rogério Alvarenga
Clique aqui para visualizar a matéria completa no site da UFSJ

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

>>> bike >>>

Bicicletada na avenida
Dezenas de ciclistas dividem espaço com automóveis nas ruas de Salvador

Mais uma sexta-feira de trabalho e estudos acabando, mais um fim de semana chegando. Hora de pegar o carro e ir para a casa descansar? Não para uma boa parte da população de Salvador, que precisa se espremer em ônibus lotados e enfrentar tráfego intenso, ruídos de trânsito, estresse em alta. A novidade é que, agora, um grupo de trabalhadores, estudantes e simpatizantes do meio de transporte "bicicleta" se reunem para a chamada Bicicletada Salvador, como a que aconteceu no último dia 26.


Os ciclistas, alguns esportistas mas a maioria cidadãos comuns, saíram por volta de 19h do Parque da Cidade, que fica numa das avenidas mais movimentadas no horário de rush de Salvador. No caminho, era possível ver uma faixa com os dizeres "Respeite o ciclista". Pouco depois das 21h, lá estavam eles no Rio Vermelho, o famoso Red River, agradável bairro boêmio, gastronômico, cultural.

A bicicletada acontece na última sexta de cada mês. Para participar, é só levar a bicicleta e a vontade de quebrar a "cultura do carro", estabelecida especialmente nos grandes centros urbanos. A cultura do carro incha o trânsito, prejudica o usuário do transporte coletivo, polui o ar, promove ruídos, estimula o sedentarismo e outros problemas ecológicos.

O movimento acontece ao mesmo tempo em que Salvador discute o projeto Cidade Bicicleta. Hoje, 2 de dezembro, às 18h, ocorre a segunda rodada de discussão, aberta ao público, no Auditório 2 da Faculdade de Arquitetura da Ufba. Para saber mais sobre o projeto, ver matéria publicada no dia 16 de novembro.


Mais informações e fotos sobre a Bicicletada Salvador: http://bicicletadasalvador.blogspot.com.

Texto por Rogério Alvarenga, com informações de Felipe Brust, Bicicletada Salvador e Projeto Cidade Bicicleta.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

>>> poema >>>

As plantas e a fome

por Rogério Alvarenga

Uma flor nasceu na rua. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. Com essas palavras, Carlos Drummond de Andrade criticava a opressão e o "mundo cinza", há mais de 60 anos, através da poesia A flor e a náusea. Palavras atuais, num país que vive a guerra da fome, mesmo vendo flores romperem o asfalto e plantas nascerem em qualquer lugar - jardins, calçadas, ou até mesmo garrafas e potes velhos sem uso. A guerra da fome alcança cerca de um terço das famílias brasileiras, segundo o IBGE - números que, pasmem, já foram piores.


Presos às suas classes e a suas roupas, os cidadãos andam de branco pela rua cinzenta, mas esquecem que o marrom da terra, o verde das plantas e a transparência da água são os bens mais básicos dos quais precisam. Um pouco de terra, centenas de sementes compradas por míseros centavos, algumas gotas de água e um recipiente fácil de encontrar nos lixos - garrafa pet, pote de sorvete ou Tetra Pak - é tudo de que necessitam para começar essa empreitada.


Os homens voltam para casa menos livres, mas levam jornais e soletram o mundo. Mas não conhecem suas necessidades mais básicas: a terra, a semente e a água. Ah, esqueci: como vivemos, hoje, trancados por paredes de concreto, é preciso conseguir um pouco de Sol, também. E, a partir de três meses, os primeiros vegetais plantados já poderão enfrentar as melancolias e as mercadorias à espreita. A couve parece ter vida eterna, se recompõe a cada folha retirada - que tal cozinhar no feijão? A chicória é forte, dá um belo recheio para panquecas e também tem vida longa. A mostarda é uma verdadeira praga de tanto que dá, mas praga mesmo é passar fome num país tão fértil.


Façam completo silêncio, paralisem os negócios: garanto que uma planta nasceu. E, com ela, a comida que falta para alguns.


Ler A flor e a náusea e outros textos de Drummond


[A imagem retrata uma chicória em crescimento numa garrafa pet com terra]

terça-feira, 16 de novembro de 2010

>>> pedal >>>

Salvador, Cidade Bicicleta
Governo da Bahia quer transformar Salvador na Cidade Bicicleta até 2014 - ano da Copa do Mundo

por Rogério Alvarenga

Poluição do ar, estresse, ruídos, agravamento da dependência e da exclusão social. Esses são alguns dos sintomas mais graves de uma das doenças mais comuns nos dias de hoje: a necessidade de automóvel. Aparentemente inofensivo, o automóvel é o sonho de boa parte dos jovens, mas a epidemia se transforma num pesadelo para os seres urbanos. Nos últimos anos, uma tecnologia bem antiga tem ganhado força para se tornar vacina e remédio contra isso: a bicicleta. Até a gigantesca e caótica Salvador entrou na onda e já conta com um projeto do Governo do Estado para se tornar a Cidade Bicicleta.

Até 2014, prevê o governo, a cidade terá ciclovias especiais que formarão circuitos para atender à Copa, ao trabalhador, ao lazer, à cultura e ao centro histórico. Se der certo, viva o futebol! O povo precisa de algo além da reforma dos estádios que servirão aos jogos. As ciclovias alcançam Paripe e arredores, Avenida Paralela e rodoviária, dentre outros roteiros estratégicos.

O projeto reconhece a importância das ciclovias por promoverem a inclusão de mais da metade da população - boa parte desprovida de recursos para comprar e manter um automóvel. Destaca ainda que é mais saudável e sustentável. A transversalidade do tema é que, certamente, dificulta os desafios: como garantir a segurança do ciclista na quarta capital mais violenta do país? Estão previstas sombras e água fresca para suportar o verão baiano nas ruas? E as empresas estimularão o hábito, providenciando bicicletários e chuveiros? Como integrar cidadãos que moram na periferia e trabalham no centro, trecho para o qual não há ligação prevista?

Que o projeto seja iluminado, saia do papel, sirva de exemplo para outras cidades e, especialmente, para outros projetos que poderiam ser intitulados "Cidade do Transporte Coletivo" ou "Cidade Pedestre".


Veja mais:
http://www.seplan.ba.gov.br/sgc/arquivos/20100406_175358_apresentacao%20cidade%20bicicleta19052009.pdf


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

>>> show >>>

SWU: Meio ambiente, meia sustentabilidade
Festival traz boas ideias, mas não se desvincula de costumes nocivos ao planeta

"Começa com você". Essa é a tradução do nome do Festival "Starts With You" (SWU), que vendeu a imagem de festival da sustentabilidade. Grandes bandas de rock do mundo inteiro apareceram na Fazenda Maeda, em Itu-SP, para alegria dos fãs: Rage Against the Machine, Pixies, Linkin Park, Dave Matthews Band, dentre outras. Mas a alegria da sustentabilidade ficou devendo - será que os fãs cobrarão na segunda edição do festival, em 2011?

As boas ideias começaram com o transporte coletivo. Foram disponibilizados ônibus próprios do evento saindo da capital paulista e da rodoviária de Itu. A execução precária no primeiro dia, porém, prejudicou aqueles que desejaram vencer a lógica moderna do automóvel particular - um dos mais graves problemas ambientais, que envolve trânsito, ruídos, poluição do ar, produção de lixo e até aquecimento global. Os ônibus ficaram presos no trânsito caótico e os fãs sustentáveis ficaram na mão - ou melhor, na estrada.

Uma boa ideia que deu certo foi a diferenciação de preços para estacionamento de carros: aqueles que levaram pelo menos três caroneiros pagaram meia. Os fóruns também foram bem frequentados, e contaram com nomes como Marcelo Yuka e Washington Novaes. Ainda bem que aconteceram durante o dia, porque alguns palestrantes passariam mal de ver a quantidade de embalagens consumidas ao longo do evento. Recicladas, é verdade, mas na pedagogia dos 3R's, a redução e a reutilização aparecem na frente. Água mineral em garrafinhas plásticas; cerveja em latinha; água e lanchinhos barrados na entrada. Toneladas de embalagens que, em 2011, poderiam ser substituídas por garrafão de água mineral, garrafão de chopp, caneca e nossos cantis trazidos de casa.

E a área "vip"? Na meia sustentabilidade do SWU, elas ocuparam 100% da frente do palco, reduzindo os ídolos a pequenas formiguinhas para quem não era "vip". Mas os fãs "não-vips" do Rage Against não se contentaram em ver apenas formiguinhas: confusão armada. Poderia ter uma área vip menos excludente.

Poderá, pois o site do evento abriu espaço para sugestões: www.swu.com.br.


Texto: Rogério Alvarenga.
Imagem: Fábio Pontes.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

>>> incêndio >>>

Pegando FOGO
Ações humanas e clima seco podem ter desencadeado série de incêndios na Serra de São José

Nos últimos dias, os incêndios florestais têm consumido de forma rápida a Serra de São José, especialmente nos municípios de Tiradentes, Santa Cruz de Minas e São João del-Rei. No domingo, 29, os bombeiros voluntários de Tiradentes trabalharam durante cerca de dez horas para controlar o fogo que começou no Mangue. Esse trecho havia sido muito frequentado durante a manhã por centenas de moradores e turistas que apreciam a beleza das cachoeiras, fauna e flora locais. Contrato Natural apurou que um grupo que fazia caminhada no local pela manhã afirma ter percebido fumaça em grande intensidade próxima ao local.

No dia seguinte, o incêndio recomeçou próximo às Águas Santas, e podia ser visto até mesmo do centro de São João del-Rei, dada a expansão que o fogo tomou com o clima seco e o vento forte. Novamente os bombeiros foram acionados, mas, no final da tarde, precisaram dividir esforços com mais um incêndio de grandes proporções, nas proximidadades do Bosque da Mãe D'Água e do Chafariz de São José, em Tiradentes. Além de 20 bombeiros voluntários, outros 30 moradores da cidade se juntaram para conter o estrago iniciado, provavelmente, por ações humanas.

O empenho para controlar o fogo envolve boa parte do município. Durante as ações dos bombeiros e outros moradores, houve coleta de água mineral, frutas e sanduíches para colaborar com o trabalho incessável dos voluntários. Moradores reclamam da falta de fiscalização dos poderes públicos nas serras, que formam uma Área de Proteção Ambiental Estadual (APA) e um Refúgio Estadual de Vida Silvestre (Revs).

Com fotos e informações do Corpo de Bombeiros Voluntários de Tiradentes
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quinta-feira, 15 de julho de 2010

>>> $ociedade >>>

Refém de um sonho

Acorda. Toma o café, o banho, prepara-se para ir ao trabalho. Por sorte, hoje ele precisa andar apenas um quilômetro. Mas andar, para ele, é sinônimo de andar sobre rodas. Pega o carro e vai ao trabalho, diariamente, de carro. Não se lembra de outra hipótese senão essa. Nunca pensou se um quilômetro é pouco ou muito, é saudável ou não, faz sol ou chuva, faz calor ou frio. Mas pega trânsito, gasta com combustível e se estressa.

Acorda. Toma o café, o banho, prepara-se para ir ao trabalho. O carro falha uma vez. Duas. Falhou de novo. O carro quebrou. A preocupação toma conta: como ficar sem o carro? Providencia o conserto imediatamente. Falta ao trabalho porque o carro quebrou, gasta com o conserto e se estressa.

Acorda. Dá bom dia ao pai, à mãe, aos dois irmãos. Ama todos, mas se estressa por não morar sozinho. Sente falta da liberdade, mas não tem dinheiro para alugar uma casa. No lar, ninguém tem. Mas todos têm a liberdade de ter o seu próprio carro. Toma o café, o banho, prepara-se para ir ao trabalho. E vai, sozinho, e se estressa.

Acorda. Faz as contas do mês e se estressa novamente. Ganha mais de mil reais, não paga aluguel, não tem filho, mas a conta não fecha. Combustível, seguro, estacionamentos, IPVA, lavagem, consertos: descobre que o carro é um filho. E se sentiu refém do carro como se sentiria de um filho. Mas se estressa, e não tem como retribuição o amor. Sente dor, não faz exercícios. Mesmo assim, prepara-se para compar um carro novo, porque o seu desvalorizou.

Acorda. Percebe que, mesmo se vender o seu carro, terá gastado mais de 100 mil reais desde que fez 18, há dez. Novamente se estressa. Não percebe que estressou as ruas apertadas, o trânsito sufocado, os que dependem do carro para trabalhar, os que usam ônibus, os que andam de bicicleta, os que respiram ar poluído.

Acorda! Mas apenas quando quiser - se quiser!

Ideia e texto por Rogério Alvarenga
Foto: www.sxc.hu

sexta-feira, 25 de junho de 2010

>>> $ociedade >>>

Abominável Mundo Novo
Dados do IBGE mostram que brasileiro gasta cada vez mais com transporte

por Rogério Alvarenga

João tem 35 anos. Aos 28, percebeu que a vida na cidade pequena era monótona e não oferecia tanta coisa boa quanto nas metrópoles. Decidiu se mudar para a capital. Mas a capital mudou junto com ele; cresceu, e suas despesas cresceram junto. João precisou gastar com ônibus. Veio o desenvolvimento, subiu na vida e, claro, precisou gastar com seu carro próprio - para muitos, uma necessidade que vem antes que a casa própria.

João é só um personagem fictício, mas representa bem milhões de Josés e Marias que habitam o Brasil. É o que indicam os números da Pesquisa de Orçamentos Familiares, divulgados no último dia 23 pelo IBGE. Quando nosso personagem João nascia, as despesas com transporte ocupavam apenas 11% do orçamento médio do brasileiro; quando João decidiu se mudar para as grandes cidades, já atingia 18%; hoje, chega a 20%.

O avanço do rombo que as despesas de transporte fazem no bolso do cidadão acompanha de perto o aumento da população concentrada em grandes centros urbanos. João deixou de ir ao trabalho a pé, simplesmente porque hoje precisa se deslocar vários quilômetros, muitos deles sem calçada e disputado por veículos poluentes e velozes. Até tentou usar bicicleta, como fazia quando precisava percorrer distâncias maiores, mas logo no primeiro dia sofreu um acidente e desistiu.

Em nosso abominável mundo novo, Josés e Marias precisam decidir entre usar o péssimo transporte coletivo ou comprar um carro. Se o bolso permitir, escolherão a segunda opção. Pobre Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que na semana passada divulgara uma pesquisa indicando poluição séria e severa de ozônio em praticamente todos os municípios avaliados em São Paulo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

>>> mini >>>

Vou jogar fora no lixo

O texto abaixo, sobre as limitações da coleta seletiva existente em Salvador, foi publicado num jornal de grande circulação da cidade:

"A coleta seletiva em Salvador tem sido realizada para atender a interesses meramente comerciais e políticos. A ingenuidade a respeito do comportamento humano soma-se ao fato e nos prejudica. Nos postos de entrega do "lixo" selecionado, é necessário expor, além do estímulo, uma ação e uma conseqüência positiva para que o comportamento esperado - selecionar o lixo - possa acontecer com maior freqüência. É preciso ver o resultado, o produto de uma ação para que haja compreensão e adesão.

Com relação aos estímulos, também nos locais de entrega, uma realidade ineficiente é verificada. A exemplo dos postos de arrecadação de pilhas e baterias (que já são poucos), há propagandas de marcas famosas e nada a respeito da importância da coleta e de suas conseqüências positivas. Esses postos, portanto, não são identificados por sua finalidade, passando despercebidos pela população. Ainda não há uma propagando maciça nas mídias para que os locais de entrega sejam identificados, nem coleta em bairros periféricos.

Como se pode pedir à população que selecione o lixo e encaminhe para a reciclagem, sem fornecer os meios para isso?" (Paullo Phirmo)

Parece com a realidade que cada um de nós vive em sua cidade, hoje? Então talvez você queira saber que o texto foi publicado em...

... 2001!

Foto: lixão em Poços de Caldas mostra realidade do "tratamento" de lixo (por Michelly Renne)

terça-feira, 1 de junho de 2010

>>> mini >>>


Vida Simples


Você já se sentiu importante, engajado em algum movimento? Já se deu conta da grandeza de suas ações e que elas sim, podem salvar o mundo? Já se sentiu feliz por uma coisa à toa, extremamente bela com sua pior roupa? Já deixou o carro na garagem e no supermercado não pediu sacolas? Você já se divertiu sem gastar dinheiro, já percebeu a alegria no rosto de alguém que não possui nenhuma riqueza aparente? Você já viu um por-do-sol, esquecendo-se de tudo ao seu redor? Já subiu em uma mangueira, ou comeu jabuticaba no pé? Você alguma vez já disse o que sente sem sufocar as palavras e ganhou um beijo? Já andou de mãos dadas, já distribuiu abraços, cantou no chuveiro, correu na chuva, fez bolhas de sabão, acampou com os amigos, ascendeu uma fogueira, sentiu e doou amor?

Se sim, você já viveu momentos de vida simples. Lembranças que ficam guardadas na mente e sempre são vistas como especiais e felizes.

Pratique a vida simples em sua vida e viva mais feliz!

Texto e vídeo por Marcelo Máximo, publicitário
www.mmaximo.musicblog.com.br

sexta-feira, 28 de maio de 2010

>>> agenda >>>

Semana do Meio Ambiente em São João del-Rei
Tema "Salvar o planeta está em nossas mãos!" chama a responsabilidade para o cidadão

por Rogério Alvarenga

Poluição das águas, do ar e das cidades; exploração animal; desmatamento; tratamento do lixo. É possível listar inúmeros problemas ambientais que se multiplicam na sociedade moderna, mas também é possível buscar soluções. Esse é o pensamento da III Semana do Meio Ambiente de São João del-Rei, que ocorre entre 31 de maio e 12 de junho envolvendo atividades em escolas, limpeza de córrego, plantio de árvores, caminhada pelos animais, blitz ecológica, passeio ciclístico e discussões sobre água e lixo. As atividades alcançam também o município de Santa Cruz de Minas.

Organizam o evento a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UFSJ (ITCP), a Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento, o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a Emater-MG, a Polícia Militar-MG, o ICMBio/Flona de Ritápolis, e a Escola Caminho do Sol.

A abertura oficial acontece no dia 31 de maio, às 9h, na sede do 38° BPM. A partir da mesma data, acontecem palestras em escolas e plantio de árvores frutíferas. Programação especial está prevista para o Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, através de blitz ecológica com distribuição de lixeiras para automóveis e folders educativos. O encerramento, em 12 de junho, prevê ações em convergência com o Dia Regional Sem Carro.

O site Contrato Natural acompanhará o evento. Aguarde cobertura.

Mais informações: www.institutoapoiar.org.br.

Foto: Cachoeira do Mangue, por Rogério Alvarenga

quarta-feira, 26 de maio de 2010

>>> data.show >>>

Minas X Mata
Estado é campeão de desmatamento da mata atlântica nos últimos anos, segundo Inpe

por Rogério Alvarenga

Comemora-se, em 27 de maio, o Dia Nacional da Mata Atlântica. Mas os números divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) envergonham especialmente Minas Gerais, o estado campeão em desmatamento dentre os nove pesquisados (ES,GO, MG, MS, PR, RJ, RS, SC e SP) nos últimos dois anos. Em termos absolutos, foram 12.524 hectares - o equivalente a uma cidade de médio porte.

O Estado ganha o campeonato em praticamente todas as categorias: tem o maior aumento na taxa de desmatamento anual (15%) e, em seu território, estão os cinco municípios líderes na perda de florestas. Perde apenas em termos relativos ao total da área de mata atlântica original - Santa Catarina aparece na frente neste período, e Goiás, historicamente.

Apesar dos números, Minas ainda tem a maior área remanescente de mata atlântica dentre os estados pesquisados. Até quando?

Software modelo

Se depender do projeto Cultura, História e Biodiversidade da Serra de São José, as florestas de Minas ainda terão sobrevida. Ao menos na área que abrange Tiradentes, São João del-Rei, Prados, Coronel Xavier Chaves e Santa Cruz de Minas. O projeto de inclusão digital através de softwares que abordam questões ambientais e culturais foi lançado no dia 20 de maio, no Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes. Estiveram presentes representantes da prefeitura municipal, da UFMG, do Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes (IHGT) e cerca de 80 professores do município.

Segundo o professor e associado do IHGT, Luiz Cruz, que coordena o projeto em Tiradentes, a iniciativa coloca a comunidade escolar diante de um processo de reflexão e aprendizado ao lidar diretamente com o patrimônio cultural e ambiental. O coordenador espera que até agosto parte dos programas já esteja disponível para o município. Futuramente o projeto deve alcançar as demais cidades abraçadas pela Serra de São José e ser disponibilizado em rede para os interessados, contribuindo para difundir a cultura, a história e a biodiversidade da serra.

Ver dados sobre desmatamento em:
http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/mataatlantica_08-10.pdf

Foto: Rogério Alvarenga

quinta-feira, 20 de maio de 2010

>>> ART.i.GO! >>>

Um conselho aos municípios

por Efraim Neto

Foi divulgado pelo IBGE na última quinta, 13, que 56,5% dos municípios brasileiros possuem conselho de meio ambiente. A imprensa ressaltou que apreocupação com a causa, pela simples existência de um órgão municipal, ganha espaço nas gestões das cidades. Até que ponto isso é verdade?

Sim, é a primeira vez que a proporção de municípios com um conselho de meio ambiente ultrapassa os 50%, mas o simples “existir” não garante a sua liberdade e independência. É mais do que evidente, e cito aqui o exemplo de Barreiras e Luis Eduardo Magalhães (BA), que a maioria dos municípios com conselho ambiental atende somente aos interesses que lhe cabem politicamente; muitas vezes do agronegócio, das indústrias poluidoras e dos agrotóxicos. Além disso, apenas 6% das prefeituras incluídas na pesquisa atendem a todos os “itens” ambientais, como secretaria exclusiva, conselho de meio ambiente ativo, fundo de meio ambiente, comitê de bacia.

Quando um município “abre” uma Secretaria de Meio Ambiente, legalmente ela passa a fazer parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), passando a ter deveres a seguir e que podem ser fiscalizados pela sociedade, Ministérios Públicos e Justiça. Portanto, a sociedade ainda tem que conhecer melhor seus Direitos e Deveres.

O Ministério do Meio Ambiente possui um orçamento de aproximadamente R$ 1 bilhão, o que é insuficiente para gerenciar suas necessidades e programas. Acredito que o reflexo de uma má administração ambiental nos municípios perpassa pela característica paternalista (a partir de seus interesses políticos) dos estados e federação.

A pergunta, portanto, é: há o que comemorar?

Foto: coleta de lixo em Itu-SP separa recicláveis e orgânicos. Crédito: Rogério Alvarenga.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

>>> agenda >>>

Inclusão digital,
preservação ambiental
Projeto leva cultura, história e biodiversidade da Serra de São José para a rede pública de Tiradentes

por Rogério Alvarenga (texto e foto)

Imagine um projeto de educação digital que envolve a criação de programas a serem trabalhados por alunos da rede pública de ensino numa determinada cidade. Nenhuma novidade até aí? Ok, agora imagine esses softwares abordando os aspectos culturais, históricos e de biodiversidade de uma área de preservação. Essa é a ideia do projeto Cultura, História e Biodiversidade da Serra de São José, a ser lançado no dia 20 de maio, das 9h30 às 12h, no Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes. A inclusão digital, com ares de preservação ambiental, alcançará a rede pública de ensino do município.

A iniciativa é da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG e da Prefeitura Municipal de Tiradentes, com o apoio do Centro Cultural Yves Alves, do Instituto Histórico e Geográfico, da Escola Estadual Basílio da Gama e da APAE de Tiradentes.

Tombamento federal
A Serra de São José alcança, além de Tiradentes, os municípios de São João del-Rei, Prados, Coronel Xavier Chaves e Santa Cruz de Minas. No último dia 4, foi realizada uma caminhada pelo tombamento federal da serra, onde aconteceu a troca da Cruz do Carteiro. A degradação provocada pelas queimadas e pelo lixo é uma das principais preocupações de ambientalistas, pesquisadores, estudantes e população em geral.

[Veja fotos da Serra de São José]

terça-feira, 11 de maio de 2010

>>> ambiente >>>

Progresso-dinossauro
Nova termelétrica em Camaçari anda na contramão do equilíbrio ambiental

por Marcelo Figueiredo, licenciado em Geografia pela UEFS e morador da Gleba A, Camaçari (BA)

A partir de hoje, 12 de maio, a cidade de Camaçari (BA) engrossa as contradições com o que fora acordado nos encontros mundiais sobre a questão ambiental - Rio 92, Rio +10, Copenhague -, como também com o que fora ratificado pelo Brasil em documentos oficiais como a Agenda 21 (desenvolvimento sustentável, lembram?) ou o Protocolo de Quioto. É que hoje, em nosso querido município, será inaugurada a temida Usina Termelétrica Arembepe Energia S/A. Trata-se de uma estratégia do governo federal (pasmem!), no Poloplast, situado em plena área urbana de Camaçari - rodeada, portanto, por cerca de 250 mil seres humanos e uma infinidade de riquezas naturais.

A termelétrica contradiz até mesmo a Lei Orgânica Municipal, em seu capítulo VIII, que diz: “A execução de obras, atividades, processos produtivos, instalação de industrias e empreendimentos e a exploração de produtos naturais de quaisquer espécies, quer pelo setor público, quer pelo setor privado, somente serão admitidas quando houver resguardo do meio ambiente.”

O funcionamento da Usina Arembepe Energia S/A é uma verdadeira espoliação não só com a humanidade, mas principalmente das futuras gerações de filhos e filhas camaçarienses. Vejamos o porquê:

No nosso Sistema Solar, um dos fatores indispensáveis para a existência e manutenção da vida na Terra é a existência de uma camada gasosa, chamada de atmosfera, que envolve nosso planeta em estado de relativo equilíbrio. Nessa atmosfera estão presentes diversos tipos de gases (dióxido de carbono, oxigênio, metano, ozônio, hidrogênio, argônio), responsáveis pela manutenção do efeito estufa, que mantém o calor no planeta. Todavia, o balanço térmico gerado pelo efeito estufa na Terra pode sofrer modificações em virtude da menor ou maior concentração de alguns gases presentes na atmosfera, dentre eles o dióxido de carbono (CO2) gerado no queima de combustíveis fósseis (carvão mineral e derivados do petróleo) ou na queimada de florestas.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

>>> cultural >>>

Depósito de restos
"Estamira", filme de Marcos Prado, mostra a loucura e o desprezo do homem-bicho

por Rogério Alvarenga

Em meio a toneladas de lixo, nada mais natural do que toneladas de loucura despejadas pela mente de Estamira, moradora do Lixão de Gramacho (Rio de Janeiro), cuja mãe já sofrera distúrbios psiquiátricos. Mas do lixo Estamira encontra a matéria-prima para cozinhar um macarrão "melhor que nos restaurantes"; das loucuras forma conceitos que muitos cidadãos "normais" não compreendem. Lucidez perigosa do cidadão comum, ou, como diria Clarice Lispector, "estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar?".

Já a lucidez da moradora do lixão é tão preenchida quanto a sua loucura humana e agressividade animal. Cospe fogo no ser humano, às vezes de forma insana, e a esse conjunto de insanidades chama de "trocadilo"; cospe fogo no "Deus estuprador", ou melhor, naqueles que inventaram Deus ("quem fez Deus foram os homens"). Afinal, por que alguém que fora traída, estuprada, espancada e assaltada por diversas vezes, durante sua época de cidadã comum, teria motivo para crer que Deus criara o homem à sua imagem e perfeição? E, em terra, o que acreditar que a escola ensina, numa sociedade como essa? Na escola, nós copiamos "hipocrisias, mentiras e charlatagens", diz.

A loucura que a preenche também está espalhada pela sick society de Na Natureza Selvagem. Quem tem coragem de interná-la em "clínicas de reabilitação" que desabilitam de vez a condição humana do internado? Estamira lembra do fim da vida de sua mãe, do sofrimento da verdadeira prisão em que vivem os loucos "em reabilitação". Chora com isso. Percebe e sente. E nós, também.

Exibido no dia 26 de abril, no Solar da Baronesa, São João del-Rei, como parte da programação Segunda no Solar, do Centro Cultural da Universidade Federal de São João del-Rei. Foto: divulgação.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

>>> ambiente >>>

A cidade e as serras
Caminhada pede tombamento federal da Serra de São José

por Rogério Alvarenga

"Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão (...)"

Esse é um trecho da poesia "A cruz da estrada", de Castro Alves, mas bem que poderia ser um pedido de proteção à Serra de São José, onde se situa a Cruz do Carteiro, em Tiradentes. A declamação do poema aconteceu durante a troca da cruz, no dia do trabalho (ou do trabalhador), após caminhada programada para chamar a atenção da necessidade do tombamento federal da área. Os organizadores também alertaram para a degradação provocada pelas queimadas e pelo lixo.

O cenário não podia ser mais exuberante: serras a perder de vista; vegetação abundante; formações de pedra; piscinas naturais. Essa foi a paisagem avistada durante a caminhada pelo tombamento da Serra de São José, que alcança, além de Tiradentes, os municípios de São João del-Rei, Prados, Coronel Xavier Chaves e Santa Cruz de Minas.

Toda essa beleza se junta à curiosa história da Cruz do Carteiro e à furiosa tradição da degradação ambiental do homem em sua busca por bens materiais. A singela cruz simboliza a morte de um carteiro, em tempos antigos, e ao redor dela encontramos diversas pedras amontoadas, proporcionando um visual inusitado - quase Hitchcock - ao local. Os moradores dizem que, ao passar por ela, deve-se deixar uma pedra.

A caminhada saiu da Matriz de Santo Antônio, às 9h, até a serra, onde aconteceu a troca da Cruz do Carteiro. A organização foi do Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes e Oficina de Teatro Entre & Vista, mas o que se viu, ao longo do caminho, foi o apoio de diversos grupos e mais de cem pessoas, entre bombeiros, ambientalistas, professores, estudantes e famílias.

Saiba mais sobre a Serra de São José:
http://ihgt.blogspot.com


Foto e ideia por Rogério Alvarenga

>>> foto.grafia >>>

A cruz da estrada
(
Castro Alves)

Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.


Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.


É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.


Não precisa de ti. O gaturamo
Geme, por ele, à tarde, no sertão.
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.


Dentre os braços da cruz, a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu.
Chora orvalhos a grama, que palpita;
Lhe acende o vaga-lume o facho seu.


Quando, à noite, o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.


Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.


Fotos e ideia: Rogério Alvarenga

quarta-feira, 28 de abril de 2010

>>> cultural >>>

O Contador de histórias

por Rogério Alvarenga


Quem de nós não está acostumado com as histórias contadas por propagandas, muitas vezes duvidosas e que induzem o indivíduo a fazer escolhas nocivas? Num passado recente, as propagandas de cigarro contavam histórias sobre surfistas e outros esportistas que fumavam e exibiam saúde invejável. Hoje, as de cerveja ainda fazem isso; as de governo, também. E, numa dessas histórias contadas por um governo, a mãe de Roberto Carlos Ramos "matricula" seu filho para ser doutor, advogado ou engenheiro, na Febem de Minas Gerais. Infelizmente esse enredo é verídico, retratado pelo filme "O contador de histórias".

Com cronologia em constante alternância, a obra começa mostrando Roberto Carlos adolescente, no auge de sua crise existencial, fugindo da fundação, roubando, drogando-se, e também sofrendo as consequências por isso: sendo espancado e até estuprado. Adolescente de quem todos fugiriam, certo? Ainda bem que não: Margherit Duvas, pedagoga francesa representada de forma marcante por Maria de Medeiros, acredita na recuperação do ser humano. Ouve suas histórias de criança e adolescente; vive seu crescimento. Também sofre as consequências por isso, mas tem a recompensa de ver o resultado de sua fé.

Hoje, Roberto Carlos é o contador de histórias. E tem muita coisa a nos contar, assim como o filme de dirigido por Luiz Villaça e produzido por Francisco Ramalho Jr. e Denise Fraga (ela mesma!).

Veja site do filme

Exibido no dia 19 de abril, no Solar da Baronesa, São João del-Rei, como parte da programação Segunda no Solar, do Centro Cultural da Universidade Federal de São João del-Rei. Foto: divulgação.

>>> reportagem >>>

O jogo de cartas de Belo Monte

por Efraim Neto

De história antiga e localizada em uma das regiões de maior diversidade biológica e cultural do país, a região conhecida como Volta Grande do Xingu, UHE de Belo Monte é alvo de um jogo de cartas que parece não ter fim.

Para algumas organizações socioambientais, o maior projeto do Pacote de Aceleração do Crescimento (PAC) e grande alvo do palco político das eleições de 2010, a construção da Hidrelétrica de Belo Monte é uma resposta medíocre ao desafio de gerar energia para o país. Como assinala Washington Novaes, em artigo de 2001 no Estadão, a história da obra é antiga e até precisou mudar de nome; chamava-se Kararaô, na tentativa de vencer a polêmica que provocou ainda na década de 1980, quando foi anunciada. Na época, um estudo coordenado pela Comissão Pró-Índio apontou que a bacia do Xingu sofrerá modificações ecológicas, demográficas e econômicas que estão sendo subestimadas, ignoradas e ocultadas. O que podemos concluir das discussões de hoje: a história se repete!

Com leilão marcado para o próximo dia 20, a obra parece ser a menina dos olhos da Dilma Rousseff, a mãe do PAC. Belo Monte é uma usina hidrelétrica projetada para ser construída no Rio Xingu, no Pará, com potência instalada de 11.233MW. O lago da usina terá 516 km2 e será, segundo informa o governo, a única usina hidrelétrica no Rio Xingu. A sua construção está avaliada em 16 bilhões de reais, segundo o governo; e 22 a 30 bilhões segundo as empresas. O leilão para a definição do construtor da UHE de Belo Monte estava previsto para ocorrer em 21 de dezembro do ano passado, mas foi remarcada para abril deste ano. É neste momento que o jogo de cartas chega a um dos pontos mais críticos deste debate; quando são discutidos valores, ações, impactos e interesses.

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Foto: www.sxc.hu