sexta-feira, 28 de maio de 2010

>>> agenda >>>

Semana do Meio Ambiente em São João del-Rei
Tema "Salvar o planeta está em nossas mãos!" chama a responsabilidade para o cidadão

por Rogério Alvarenga

Poluição das águas, do ar e das cidades; exploração animal; desmatamento; tratamento do lixo. É possível listar inúmeros problemas ambientais que se multiplicam na sociedade moderna, mas também é possível buscar soluções. Esse é o pensamento da III Semana do Meio Ambiente de São João del-Rei, que ocorre entre 31 de maio e 12 de junho envolvendo atividades em escolas, limpeza de córrego, plantio de árvores, caminhada pelos animais, blitz ecológica, passeio ciclístico e discussões sobre água e lixo. As atividades alcançam também o município de Santa Cruz de Minas.

Organizam o evento a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UFSJ (ITCP), a Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento, o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a Emater-MG, a Polícia Militar-MG, o ICMBio/Flona de Ritápolis, e a Escola Caminho do Sol.

A abertura oficial acontece no dia 31 de maio, às 9h, na sede do 38° BPM. A partir da mesma data, acontecem palestras em escolas e plantio de árvores frutíferas. Programação especial está prevista para o Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, através de blitz ecológica com distribuição de lixeiras para automóveis e folders educativos. O encerramento, em 12 de junho, prevê ações em convergência com o Dia Regional Sem Carro.

O site Contrato Natural acompanhará o evento. Aguarde cobertura.

Mais informações: www.institutoapoiar.org.br.

Foto: Cachoeira do Mangue, por Rogério Alvarenga

quarta-feira, 26 de maio de 2010

>>> data.show >>>

Minas X Mata
Estado é campeão de desmatamento da mata atlântica nos últimos anos, segundo Inpe

por Rogério Alvarenga

Comemora-se, em 27 de maio, o Dia Nacional da Mata Atlântica. Mas os números divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) envergonham especialmente Minas Gerais, o estado campeão em desmatamento dentre os nove pesquisados (ES,GO, MG, MS, PR, RJ, RS, SC e SP) nos últimos dois anos. Em termos absolutos, foram 12.524 hectares - o equivalente a uma cidade de médio porte.

O Estado ganha o campeonato em praticamente todas as categorias: tem o maior aumento na taxa de desmatamento anual (15%) e, em seu território, estão os cinco municípios líderes na perda de florestas. Perde apenas em termos relativos ao total da área de mata atlântica original - Santa Catarina aparece na frente neste período, e Goiás, historicamente.

Apesar dos números, Minas ainda tem a maior área remanescente de mata atlântica dentre os estados pesquisados. Até quando?

Software modelo

Se depender do projeto Cultura, História e Biodiversidade da Serra de São José, as florestas de Minas ainda terão sobrevida. Ao menos na área que abrange Tiradentes, São João del-Rei, Prados, Coronel Xavier Chaves e Santa Cruz de Minas. O projeto de inclusão digital através de softwares que abordam questões ambientais e culturais foi lançado no dia 20 de maio, no Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes. Estiveram presentes representantes da prefeitura municipal, da UFMG, do Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes (IHGT) e cerca de 80 professores do município.

Segundo o professor e associado do IHGT, Luiz Cruz, que coordena o projeto em Tiradentes, a iniciativa coloca a comunidade escolar diante de um processo de reflexão e aprendizado ao lidar diretamente com o patrimônio cultural e ambiental. O coordenador espera que até agosto parte dos programas já esteja disponível para o município. Futuramente o projeto deve alcançar as demais cidades abraçadas pela Serra de São José e ser disponibilizado em rede para os interessados, contribuindo para difundir a cultura, a história e a biodiversidade da serra.

Ver dados sobre desmatamento em:
http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/mataatlantica_08-10.pdf

Foto: Rogério Alvarenga

quinta-feira, 20 de maio de 2010

>>> ART.i.GO! >>>

Um conselho aos municípios

por Efraim Neto

Foi divulgado pelo IBGE na última quinta, 13, que 56,5% dos municípios brasileiros possuem conselho de meio ambiente. A imprensa ressaltou que apreocupação com a causa, pela simples existência de um órgão municipal, ganha espaço nas gestões das cidades. Até que ponto isso é verdade?

Sim, é a primeira vez que a proporção de municípios com um conselho de meio ambiente ultrapassa os 50%, mas o simples “existir” não garante a sua liberdade e independência. É mais do que evidente, e cito aqui o exemplo de Barreiras e Luis Eduardo Magalhães (BA), que a maioria dos municípios com conselho ambiental atende somente aos interesses que lhe cabem politicamente; muitas vezes do agronegócio, das indústrias poluidoras e dos agrotóxicos. Além disso, apenas 6% das prefeituras incluídas na pesquisa atendem a todos os “itens” ambientais, como secretaria exclusiva, conselho de meio ambiente ativo, fundo de meio ambiente, comitê de bacia.

Quando um município “abre” uma Secretaria de Meio Ambiente, legalmente ela passa a fazer parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), passando a ter deveres a seguir e que podem ser fiscalizados pela sociedade, Ministérios Públicos e Justiça. Portanto, a sociedade ainda tem que conhecer melhor seus Direitos e Deveres.

O Ministério do Meio Ambiente possui um orçamento de aproximadamente R$ 1 bilhão, o que é insuficiente para gerenciar suas necessidades e programas. Acredito que o reflexo de uma má administração ambiental nos municípios perpassa pela característica paternalista (a partir de seus interesses políticos) dos estados e federação.

A pergunta, portanto, é: há o que comemorar?

Foto: coleta de lixo em Itu-SP separa recicláveis e orgânicos. Crédito: Rogério Alvarenga.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

>>> agenda >>>

Inclusão digital,
preservação ambiental
Projeto leva cultura, história e biodiversidade da Serra de São José para a rede pública de Tiradentes

por Rogério Alvarenga (texto e foto)

Imagine um projeto de educação digital que envolve a criação de programas a serem trabalhados por alunos da rede pública de ensino numa determinada cidade. Nenhuma novidade até aí? Ok, agora imagine esses softwares abordando os aspectos culturais, históricos e de biodiversidade de uma área de preservação. Essa é a ideia do projeto Cultura, História e Biodiversidade da Serra de São José, a ser lançado no dia 20 de maio, das 9h30 às 12h, no Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes. A inclusão digital, com ares de preservação ambiental, alcançará a rede pública de ensino do município.

A iniciativa é da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG e da Prefeitura Municipal de Tiradentes, com o apoio do Centro Cultural Yves Alves, do Instituto Histórico e Geográfico, da Escola Estadual Basílio da Gama e da APAE de Tiradentes.

Tombamento federal
A Serra de São José alcança, além de Tiradentes, os municípios de São João del-Rei, Prados, Coronel Xavier Chaves e Santa Cruz de Minas. No último dia 4, foi realizada uma caminhada pelo tombamento federal da serra, onde aconteceu a troca da Cruz do Carteiro. A degradação provocada pelas queimadas e pelo lixo é uma das principais preocupações de ambientalistas, pesquisadores, estudantes e população em geral.

[Veja fotos da Serra de São José]

terça-feira, 11 de maio de 2010

>>> ambiente >>>

Progresso-dinossauro
Nova termelétrica em Camaçari anda na contramão do equilíbrio ambiental

por Marcelo Figueiredo, licenciado em Geografia pela UEFS e morador da Gleba A, Camaçari (BA)

A partir de hoje, 12 de maio, a cidade de Camaçari (BA) engrossa as contradições com o que fora acordado nos encontros mundiais sobre a questão ambiental - Rio 92, Rio +10, Copenhague -, como também com o que fora ratificado pelo Brasil em documentos oficiais como a Agenda 21 (desenvolvimento sustentável, lembram?) ou o Protocolo de Quioto. É que hoje, em nosso querido município, será inaugurada a temida Usina Termelétrica Arembepe Energia S/A. Trata-se de uma estratégia do governo federal (pasmem!), no Poloplast, situado em plena área urbana de Camaçari - rodeada, portanto, por cerca de 250 mil seres humanos e uma infinidade de riquezas naturais.

A termelétrica contradiz até mesmo a Lei Orgânica Municipal, em seu capítulo VIII, que diz: “A execução de obras, atividades, processos produtivos, instalação de industrias e empreendimentos e a exploração de produtos naturais de quaisquer espécies, quer pelo setor público, quer pelo setor privado, somente serão admitidas quando houver resguardo do meio ambiente.”

O funcionamento da Usina Arembepe Energia S/A é uma verdadeira espoliação não só com a humanidade, mas principalmente das futuras gerações de filhos e filhas camaçarienses. Vejamos o porquê:

No nosso Sistema Solar, um dos fatores indispensáveis para a existência e manutenção da vida na Terra é a existência de uma camada gasosa, chamada de atmosfera, que envolve nosso planeta em estado de relativo equilíbrio. Nessa atmosfera estão presentes diversos tipos de gases (dióxido de carbono, oxigênio, metano, ozônio, hidrogênio, argônio), responsáveis pela manutenção do efeito estufa, que mantém o calor no planeta. Todavia, o balanço térmico gerado pelo efeito estufa na Terra pode sofrer modificações em virtude da menor ou maior concentração de alguns gases presentes na atmosfera, dentre eles o dióxido de carbono (CO2) gerado no queima de combustíveis fósseis (carvão mineral e derivados do petróleo) ou na queimada de florestas.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

>>> cultural >>>

Depósito de restos
"Estamira", filme de Marcos Prado, mostra a loucura e o desprezo do homem-bicho

por Rogério Alvarenga

Em meio a toneladas de lixo, nada mais natural do que toneladas de loucura despejadas pela mente de Estamira, moradora do Lixão de Gramacho (Rio de Janeiro), cuja mãe já sofrera distúrbios psiquiátricos. Mas do lixo Estamira encontra a matéria-prima para cozinhar um macarrão "melhor que nos restaurantes"; das loucuras forma conceitos que muitos cidadãos "normais" não compreendem. Lucidez perigosa do cidadão comum, ou, como diria Clarice Lispector, "estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar?".

Já a lucidez da moradora do lixão é tão preenchida quanto a sua loucura humana e agressividade animal. Cospe fogo no ser humano, às vezes de forma insana, e a esse conjunto de insanidades chama de "trocadilo"; cospe fogo no "Deus estuprador", ou melhor, naqueles que inventaram Deus ("quem fez Deus foram os homens"). Afinal, por que alguém que fora traída, estuprada, espancada e assaltada por diversas vezes, durante sua época de cidadã comum, teria motivo para crer que Deus criara o homem à sua imagem e perfeição? E, em terra, o que acreditar que a escola ensina, numa sociedade como essa? Na escola, nós copiamos "hipocrisias, mentiras e charlatagens", diz.

A loucura que a preenche também está espalhada pela sick society de Na Natureza Selvagem. Quem tem coragem de interná-la em "clínicas de reabilitação" que desabilitam de vez a condição humana do internado? Estamira lembra do fim da vida de sua mãe, do sofrimento da verdadeira prisão em que vivem os loucos "em reabilitação". Chora com isso. Percebe e sente. E nós, também.

Exibido no dia 26 de abril, no Solar da Baronesa, São João del-Rei, como parte da programação Segunda no Solar, do Centro Cultural da Universidade Federal de São João del-Rei. Foto: divulgação.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

>>> ambiente >>>

A cidade e as serras
Caminhada pede tombamento federal da Serra de São José

por Rogério Alvarenga

"Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão (...)"

Esse é um trecho da poesia "A cruz da estrada", de Castro Alves, mas bem que poderia ser um pedido de proteção à Serra de São José, onde se situa a Cruz do Carteiro, em Tiradentes. A declamação do poema aconteceu durante a troca da cruz, no dia do trabalho (ou do trabalhador), após caminhada programada para chamar a atenção da necessidade do tombamento federal da área. Os organizadores também alertaram para a degradação provocada pelas queimadas e pelo lixo.

O cenário não podia ser mais exuberante: serras a perder de vista; vegetação abundante; formações de pedra; piscinas naturais. Essa foi a paisagem avistada durante a caminhada pelo tombamento da Serra de São José, que alcança, além de Tiradentes, os municípios de São João del-Rei, Prados, Coronel Xavier Chaves e Santa Cruz de Minas.

Toda essa beleza se junta à curiosa história da Cruz do Carteiro e à furiosa tradição da degradação ambiental do homem em sua busca por bens materiais. A singela cruz simboliza a morte de um carteiro, em tempos antigos, e ao redor dela encontramos diversas pedras amontoadas, proporcionando um visual inusitado - quase Hitchcock - ao local. Os moradores dizem que, ao passar por ela, deve-se deixar uma pedra.

A caminhada saiu da Matriz de Santo Antônio, às 9h, até a serra, onde aconteceu a troca da Cruz do Carteiro. A organização foi do Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes e Oficina de Teatro Entre & Vista, mas o que se viu, ao longo do caminho, foi o apoio de diversos grupos e mais de cem pessoas, entre bombeiros, ambientalistas, professores, estudantes e famílias.

Saiba mais sobre a Serra de São José:
http://ihgt.blogspot.com


Foto e ideia por Rogério Alvarenga

>>> foto.grafia >>>

A cruz da estrada
(
Castro Alves)

Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.


Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.


É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.


Não precisa de ti. O gaturamo
Geme, por ele, à tarde, no sertão.
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.


Dentre os braços da cruz, a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu.
Chora orvalhos a grama, que palpita;
Lhe acende o vaga-lume o facho seu.


Quando, à noite, o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.


Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.


Fotos e ideia: Rogério Alvarenga