sexta-feira, 25 de junho de 2010

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Abominável Mundo Novo
Dados do IBGE mostram que brasileiro gasta cada vez mais com transporte

por Rogério Alvarenga

João tem 35 anos. Aos 28, percebeu que a vida na cidade pequena era monótona e não oferecia tanta coisa boa quanto nas metrópoles. Decidiu se mudar para a capital. Mas a capital mudou junto com ele; cresceu, e suas despesas cresceram junto. João precisou gastar com ônibus. Veio o desenvolvimento, subiu na vida e, claro, precisou gastar com seu carro próprio - para muitos, uma necessidade que vem antes que a casa própria.

João é só um personagem fictício, mas representa bem milhões de Josés e Marias que habitam o Brasil. É o que indicam os números da Pesquisa de Orçamentos Familiares, divulgados no último dia 23 pelo IBGE. Quando nosso personagem João nascia, as despesas com transporte ocupavam apenas 11% do orçamento médio do brasileiro; quando João decidiu se mudar para as grandes cidades, já atingia 18%; hoje, chega a 20%.

O avanço do rombo que as despesas de transporte fazem no bolso do cidadão acompanha de perto o aumento da população concentrada em grandes centros urbanos. João deixou de ir ao trabalho a pé, simplesmente porque hoje precisa se deslocar vários quilômetros, muitos deles sem calçada e disputado por veículos poluentes e velozes. Até tentou usar bicicleta, como fazia quando precisava percorrer distâncias maiores, mas logo no primeiro dia sofreu um acidente e desistiu.

Em nosso abominável mundo novo, Josés e Marias precisam decidir entre usar o péssimo transporte coletivo ou comprar um carro. Se o bolso permitir, escolherão a segunda opção. Pobre Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que na semana passada divulgara uma pesquisa indicando poluição séria e severa de ozônio em praticamente todos os municípios avaliados em São Paulo.

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