sábado, 17 de dezembro de 2011

>>> art.I.GO! >>>



Mataram um yorkshire, mas não mataram o mundo

por Rogério Alvarenga

Desde a última sexta-feira, 16, o assunto principal nas redes sociais é a crueldade humana. As cenas de uma enfermeira matando um cão, mais lembrado por sua "raça" yorkshire, na frente de uma criança e com direito a plateia, ganharam o país via Orkut, Facebook e até Rede Globo. Seguiu-se uma artilharia de pessimismo: estaria o mundo perdido?

Paradoxal, mas casos de extrema violência são comuns nas mídias de largo alcance - incluindo aí as redes sociais. A enfermeira que matou o cachorro, o pai que matou a filha... audiência garantida. Falar de ações positivas? Só no programa que começa antes do Sol nascer, ou durante 30 segundos do horário nobre - contra 23 horas, 59 minutos e 30 segundos do
show da vida consumista e trágica. O resultado mais óbvio não poderia ser outro senão o desespero coletivo. Você, que está sofrendo, certamente também está passivo. E a passividade do fim dos tempos...

... esvazia o debate de uma sociedade que vive imersa em medos e mentiras - quando, por exemplo, aceita a carne como uma necessidade, mesmo sendo desnecessária fisiologicamente a quem tem acesso a vegetais. A passividade impede ou tira a seriedade da discussão sobre o sofrimento e a morte de milhões de porcos, bois e outros animais que servem quase sempre ao mercado, ao prazer gastronômico e à tradição, mas quase nunca à sobrevivência. 

O esvaziamento do debate nos transforma em bichos, incapazes de pensar, raciocinar. O mercado, o prazer gastronômico e a tradição passam a ser mais importantes que o sofrimento de animais semelhantes aos cães. "Leões, tigres e crocodilos são pecadores por comerem carne", ironiza um internauta, colocando-se no mesmo patamar dos bichos, especificamente dos carnívoros, desconhecendo que somos onívoros. "Cadeia alimentar", justifica outro, provavelmente teclando de alguma selva onde essa cadeia faça sentido e não dependa da produção industrial. "Alguma coisa morre para nos alimentar, animal ou vegetal", completa um terceiro, que certamente, em seus passeios matinais no parque, enxerga com os mesmos olhos o drama biológico de um capim ressecado e o sofrimento físico e mental de um cachorrinho com fome.

A revolta diante da violência injustificada é válida e bem melhor do que a passividade. Mas não pode se resumir a casos extremos, que sempre existirão na história das patologias humanas. Nem deve se resumir a uma terapia de alívio do paciente do Facebook - é preciso sair do meio virtual. Gosta de cachorro, seja ele yorkshire ou vira-latas? Sua cidade deve ter uma associação de proteção aos animais. Procure ajudá-la. Reflita sobre suas ações com os outros animais, inclusive humanos. Essa é a melhor terapia para um mundo enfermo.

Se você não gostou deste texto, fique à vontade para levar o debate adiante. Ou para xingar muito no Twitter...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

>>> Semana do Animal >>>

 Atividades em escolas encerram 
5ª SEMANA DO ANIMAL
Educação ambiental com crianças supera expectativa e alcança mais de mil alunos


Uma semana que durou nove dias. O alcance da 5ª Semana do Animal superou o esperado até mesmo na duração. Nesta quinta, 6, a Escola Municipal das Goiabeiras, na zona rural de São João del-Rei, foi a última que trabalhou o vídeo "Fulaninho, o cão que ninguém queria" e a cartilha educativa do evento. Na terça à tarde, outra escola rural, Padre Miguel Leite, no Cajuru, recebeu profissionais e estudantes ligados à Semana do Animal.

"De novo! De novo!". Os pedidos entusiasmados da criançada ecoavam pelo pátio da escola do Cajuru, quando uma roda foi organizada para cantar "Não atire o pau no gato". A versão da conhecida cantiga "Atirei o pau no gato" estimula o respeito aos animais e fez sucesso com os alunos. Durante o vídeo Fulaninho, muita emoção quando o cãozinho era abandonado por seus donos, compensada pela alegria de vê-lo adotado.

A importância da adoção de animais também foi tratada fora das escolas, nas ruas do centro, onde foi promovida a Feira de Adoção no primeiro dia de outubro. Em poucas horas, 36 cães ganharam um lar e, principalmente, uma família. Algumas famílias se interessaram também por gatos. A adoção de animais abandonados, assim como a identificação por microchipagem e a castração, são os cuidados que a Sociedade Protetora dos Animais recomenda para controlar o grave problema da multiplicação de animais pelas ruas, especialmente os cães.

A Semana do Animal também abordou questões polêmicas, como a ética e os direitos dos animais na pesquisa científica e na produção agropecuária. Tema que encontra "resistência certa", como disse o reitor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Helvécio Luiz Reis, durante a abertura da Semana do Animal, no dia 28 de setembro. Mas a resistência, por alguns momentos, ficou de lado, e cerca de 150 pessoas, dentre estudantes, professores, técnicos e ambientalistas lotaram o anfiteatro da Universidade e assistiram atentamente às palestras.

Dentre os palestrantes, o professor convidado e advogado Daniel Braga Lourenço (UFRRJ) não vê justificativa para escravizarmos boa parte dos animais, "porque comungamos com eles várias semelhanças biológicas”. Já o coordenador da Comissão de Ética no Uso de Animais da UFSJ, professor Gilcélio Amaral da Silveira, considera que “ainda precisamos dos animais para ampliar nosso conhecimento e melhorar a nossa vida, mas com o investimento em tecnologia, poderemos abolir no futuro o uso de animais na experimentação”. O professor Rogério Martins Maurício (UFSJ), espera “que lutemos pela produção agropecuária conciliada à ética e ao respeito animal, e uma das soluções possíveis são as práticas silvipastoris”.

A questão do uso de animais para alimentação também foi tema de uma atividade prática do evento: a Oficina de Culinária Vegetariana. Realizada no Espaço Calêndula, no domingo, 2, proporcionou a cerca de 20 inscritos receitas como estrogonofe, quibe e torta vegetarianos.

A 5ª Semana do Animal foi realizada pela Universidade Federal de São João del-Rei, através de sua rede ambiental UFSJ Bioagradável e do projeto Amigos de Quatro Patas, em parceria com a Sociedade São Francisco de Assis de Proteção aos Animais. Patrocinou o evento a Alcon Pet. As palestras completas e alguns momentos da Feira de Adoção estão disponíveis no site do Instituto Apoiar.

Texto: Rogério Alvarenga
Imagem: Carol Slaibi

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

>>> asfalto >>>

Ditaduras do ASFALTO
Prefeituras gastam milhões para retocar asfalto, mas esquecem ciclovias e ciclofaixas


Oito de Dezembro é uma avenida nobre de São João del-Rei com pouco menos de um quilômetro de extensão. Recentemente, 200 mil reais foram investidos para retocar o asfalto da avenida - que, obviamente, já era asfaltada, pois os nobres não viveriam a decadência dos paralelepípedos ou bloquetes. Outras avenidas receberam aportes ainda maiores: na Josué de Queiroz, quase três quilômetros, quase 600 mil.

Recursos próprios de uma prefeitura municipal. Na TV, o prefeito comemora o recebimento de 7 milhões de reais do governo estadual para outras obras com asfalto. Se você não conhece São João del-Rei, pode estar pensando: "que bom, a cidade deve ser rica e desenvolvida". Rica de história e natureza, mas desenvolvida pela ditadura do asfalto.

A cidade de São João del-Rei tem apenas uma ciclovia, para ligar a área urbana a um dos campi da Universidade Federal, que se localiza numa estrada. Menos de um quilômetro de ciclovia para uma população de quase 100 mil habitantes. Um centímetro por habitante. Sorocaba (SP), com seis vezes mais habitantes, tem pelo menos 70 vezes mais extensão de vias para ciclistas.

Quem localizar outra ciclovia em São João, favor informar. No momento, estamos procurando ciclofaixas, vias integradas ao trânsito, reconhecidas por uma "faixa" pintada. Também está difícil de encontrar. Zero centímetro de ciclofaixa por habitante. Os milhões investidos em asfalto não vêm acompanhado de poucos milhares para pintar e sinalizar ciclofaixas.

Na ditadura do asfalto, nem mesmo o transporte coletivo sai ganhando. A cidade que gasta 200 mil para retocar um quilômetro de avenida nobre não tem um terminal de integração de ônibus. Um terminal bem planejado estimula o uso do transporte coletivo, pois o cidadão paga a tarifa apenas uma vez e pode pegar dois ônibus para alcançar mais rapidamente o seu destino. Em Petrópolis (RJ), é possível percorrer mais de 30 quilômetros de ônibus gastando menos do que o preço de um litro de gasolina.

Na ditadura do asfalto, algumas flores furam o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. Pena que ainda há mais náusea do que flores.


Texto: Rogério Alvarenga
Com trecho da poesia "A flor e a náusea", de Drummond de Andrade

sábado, 9 de julho de 2011

>>> Audiência pública - como foi >>>


Prefeito não comparece e secretário admite rodeio mesmo contra lei
Cai o mito de que a microchipagem de animais é cara. Prefeitura gastaria apenas 7 reais para cada microchip


"Gostaríamos de convidar o prefeito de São João del-Rei, Nivaldo José de Andrade, ou seu representante, para compor a mesa". Silêncio no Auditório da Polícia Militar, onde ocorreu, na quinta, 7 de julho, a audiência pública sobre animais soltos nas ruas. O prefeito não compareceu, nem mesmo seu representante. Longe dos holofotes da mídia nacional, também não participaram do debate o secretário de meio ambiente e boa parte dos cidadãos que, há poucas semanas, movimentaram as ruas e a Câmara em defesa dos animais.

O debate mostrou que a microchipagem de animais, como forma de identificar e responsabilizar quem não cumpre a guarda responsável, é consenso. Defenderam a prática a coordenadora do Projeto Amigos de Quatro Patas (UFSJ), professora Leila Gaya, a presidente da Sociedade Protetora dos Animais, Mara Souto, o coordenador de zoonoses do município, Valdisnei Lopes, e o jornalista da rede ambiental UFSJ Bioagradável, Rogério Alvarenga.

Caiu o mito de que a chipagem é cara. O coordenador de zoonoses afirmou que cada microchip sairia, para a prefeitura, apenas 7 reais. Para fazer a leitura das informações de todos os animais, o investimento num único leitor, que custa 700 reais, seria suficiente. Nas próximas discussões, fica no ar a pergunta: se é tão importante e barata, por que ainda não colocamos em prática a medida? Outras ações sugeridas foram esterilização em massa de cães, espaço para tratar e encaminhá-los à adoção, e aumento no valor da multa para quem tem o animal, inclusive de tração e produção, apreendido.

Lei proíbe rodeio

A discussão esquentou quando o assunto foi o rodeio previsto para agosto no município. Da plateia veio a pergunta: haverá o rodeio, mesmo sendo contra uma lei municipal? O secretário de agricultura, Marcus Frois, não conseguiu responder à pergunta, afirmando que está conversando com o prefeito sobre a lei, porque o município precisa gerar renda com os animais. "Lei é para ser cumprida, não tem o que conversar", desabafou um dos presentes no auditório.

Nos últimos dias, o prefeito do município Resende Costa, a 30 quilômetros de São João, tem aparecido na televisão para comunicar o cancelamento do rodeio e outras atividades envolvendo animais na exposição local, "não havendo outra alternativa em virtude da lei", sem que isso interfira nos shows musicais. Os são-joanenses aguardam para saber se, em sua cidade, a lei vale.

A audiência pública foi proposta pela vereadora Vera do Polivalente. Também compareceram os vereadores João da Marcação e Rosinha do Mototáxi. Nos próximos dias, será disponibilizado no site do Instituto Apoiar e compartilhado no Contrato Natural vídeo completo da audiência.

Filmagem: Instituto Apoiar

quarta-feira, 6 de julho de 2011

>>> animais nas ruas >>>

Audiência pública discute animais soltos na rua em São João
Saiba quais são as medidas recomendadas por especialistas e já adotadas por diversas cidades

Em virtude da realização de audiência pública amanhã, 7, para tratar da questão dos animais nas ruas de São João del-Rei, publicamos o artigo abaixo, de autoria do veterinário João Henrique Araújo Virgens. A audiência ocorre no Auditório da Polícia Militar, na Av. Leite de Castro.

“Um novo dia nasce e mais uma cidade resolve discutir o destino dos animais abandonados nas ruas. Será mais um processo desgastante caso a cidade desconsidere as experiências de outros municípios e os avanços trazidos pelas pesquisas e discussões nesta área.

O ato de legislar, em teoria, representa criar as condições necessárias para melhorar a convivência social e cuidar de forma efetiva das necessidades básicas da população. Porém, muitos assuntos não deveriam ser conduzidos sem AMPLA DISCUSSÃO e sem contar com a participação de ESPECIALISTAS.

Ao considerar a situação dos animais abandonados sem uma análise antropológica e sem tratar das implicações sociais de qualquer medida adotada, o município corre o risco de perder o apoio popular para alcançar seus objetivos. O melhor resultado seria garantir o apoio da população para EVITAR NOVOS ABANDONOS e garantir um TRATAMENTO HUMANITÁRIO para os animais considerados em situação de abandono. Esses dois objetivos devem ser tratados com seriedade e as estratégias de ação devem permitir que a população tenha clareza sobre a importância que o Estado dá aos animais. Afinal, se o Estado não serve de exemplo para a população, não haveria muita razão para cobrar da população respeito aos animais.

Em muitas cidades, a primeira solução pensada é o sacrifício dos animais em situação de abandono. Porém, nunca houve clareza sobre a eficácia desta atitude. Um dos motivos é o fato da população destas cidades perder o respeito pelos animais tratados como problema, e o resultado disso normalmente é a ampliação do abandono. A melhor forma de garantir uma situação de convivência saudável entre as pessoas é permitindo que este respeito seja estendido para as outras espécies. A perspectiva biocêntrica garante soluções mais adequadas para lidar com problemas de saúde pública que dependem da participação da sociedade para efetiva implantação de um programa que vise melhorias nas condições de vida da população e maior acesso ao SUS.

Qualquer animal, inclusive o homem, só se torna potencial transmissor de doenças se ele não receber os devidos cuidados. Portanto as ações precisam ser bem abrangentes. As estratégias que mais ganham popularidade para resolver essa questão do abandono são: 1) EDUCAÇÃO POPULAR, com ações em escolas e comunidades mais afetadas pelo problema; 2) BANCO DE DADOS centralizado com informações sobre os animais e quem são os responsáveis por eles, se possível com utilização de microchip garantido por intermédio de uma legislação municipal que exija cadastro de novos animais e responsabilização dos guardiões em caso de abandonos ou maus tratos; 3) Amplo processo de ESTERILIZAÇÃO de cães e gatos, como forma de controle populacional; 4) Garantia de cuidados veterinários, esterilização e alimentação dos CÃES COMUNITÁRIOS, aqueles que recebem cuidados da população, mas não são adotados definitivamente 5) CAPACITAÇÃO de agentes de saúde e demais profissionais envolvidos e garantia de equipes bem estruturadas para dar conta deste serviço com ampla repercussão e inúmeros benefícios sociais.

Algumas cidades continuam a implantar as soluções aparentemente mais fáceis, mas rapidamente percebem o erro. A esperança é acreditar no bom senso humano e ter a convicção que as melhores soluções surgem do amplo debate. Quem optar por abster-se da discussão não terá do que reclamar e restará aceitar as determinações impostas por aqueles que aproveitarem melhor o momento.”

Texto: João Henrique Araújo Virgens
Imagem: Analu Sousa

domingo, 12 de junho de 2011

>>> cãominhada >>>

Bicicletas e cachorros
Passeio ciclístico e cãominhada encerram Semana do Meio Ambiente em São João del-Rei

Após oito dias de ações em prol do ambiente e da educação ambiental, dezenas de ciclistas e mais de cem pessoas levando seus cães tomaram as ruas da cidade. As grandes estrelas da manhã do dia 12 de junho definitivamente não eram os namorados, mas os cachorros, de raça ou "vira-latas" - que, afinal, também têm muita raça. Enormes como são bernardos ou pequenos como yorkshires, com apenas três patas e muita disposição, eles se divertiram e alegraram as crianças.

"É importante trazer a família, as crianças, para que aprendam a cuidar dos animais", opinam Alessandra e Cléber, pais de Maria Luiza, que aguardava a cãominhada ao lado de sua cachorrinha no estacionamento do Supermercado Sales, o ponto de partida. "Se deixar, ela guarda todos os cães de rua em casa", explica a mãe, que se orgulha de viverem próximos dos animais.

Era possível ver, também, representantes políticos e jornalistas acompanhando a cãominhada. "É necessário valorizar os trabalhos que as pessoas fazem. Cada grupo abraça uma causa, e eu fico feliz de apoiá-los sempre que posso", explica a vereadora Vera do Polivalente, que convida os cidadãos a participarem da audiência pública sobre a questão dos animais de rua em São João, no dia 6 de julho, em local e horário a serem definidos.

Representando a Universidade Federal de São João del-Rei, estiveram presentes diversos servidores e estudantes da rede ambiental UFSJ Bioagradável e dos projetos de extensão Projeto Sucata e Amigos de Quatro Patas - este último atua na educação para guarda responsável, esterilização e doação de cães de rua. Assunto que a veterinária Manuela Cassano, da ClinVET, conhece bem: "a gente gosta muito de ajudar. Recentemente, conseguimos colocar para adoção cerca de 15 filhotes", comemora, explicando que a presença do stand da ClinVET, em parceria com a Guabi, vai além da questão comercial.

Para a realização da II Cãominhada Ecológica de São João, colaboraram, além das empresas acima: Supermercado Sales, Pontocão, Nossa Terra, Nutricampo, Zoopet, Mundo Animal, Bichos Mania, Mil Bichos, Agrolopes, Agrosil. A Semana do Meio Ambiente é uma realização da Emater, UFSJ Bioagradável, ICMBio, Polícia Militar, Instituto Apoiar, IEF, IPTAN, Mãos e Obra e Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Para acompanhar novidades sobre a UFSJ Bioagradável, acesse www.ufsj.edu.br/bioagradavel. Já sobre os projetos de proteção aos animais, acesse www.facebook.com/animais.sjdr.

sábado, 11 de junho de 2011

>>> lixo >>>



PORCOS de rua - suínos e humanos

Você já ouviu falar de porcos de rua? Essa realidade foi filmada pelo
Instituto Apoiar e relatada no blog do Projeto Sujão del-Rei [clique aqui para acessar].


quinta-feira, 2 de junho de 2011

>>> ambiente >>>

Lixo, animais e horta solidária
Discussões em fórum ambiental resultarão em plano de ações do Projeto UFSJ Bioagradável. Interessados podem participar e ajudar a construir o documento

O Anfiteatro do Campus Dom Bosco da UFSJ recebe, na terça-feira, 7 de junho, vídeos, debate e apresentação de práticas sustentáveis exitosas. Às 9h, discursa o reitor da instituição. Em seguida, é exibido o vídeo "Home", abrindo espaço para os debates da manhã.

Às 14h, iniciam-se as apresentações das práticas ambientais, que resultarão na elaboração do plano de ações do Projeto UFSJ Bioagradável. Lixo, animais e horta solidária são alguns dos temas tratados.

Já confirmaram presença: Hélder Sávio Silva, prefeito de Coronel Xavier Chaves (MG), falando sobre a Usina de TRIAGEM E COMPOSTAGEM de Lixo; Valéria Kemp, vice-reitora da UFSJ, apresentando a Associação de CATADORES de Materiais Recicláveis de São João del-Rei (Ascas); professor Túlio Panzera, Dep. de Engenharia Mecânica, "REUTILIZAÇÃO de dejetos sólidos em projetos de pesquisa científica"; professora Leila de Gênova, Dep. de Engenharia de Biossistemas, AMIGOS DE QUATRO PATAS; Toninho Ávila, discursando sobre "O LENHEIRO e efeitos ecológicos"; Mara Souto, Sociedade São Francisco de Assis Protetora dos Animais, "Vida, SIM!"; Antônio Claret, Instituto Apoiar, "Caminhos e descaminhos do LIXO"; além das experiências de HORTA SOLIDÁRIA, do Crea-Jr., e Perfil SUSTENTÁVEL, da Perfil Consultoria Jr.

Ao final do fórum, será elaborado o plano de ações da UFSJ Bioagradável. A participação do público na elaboração do documento é mais uma oportunidade para São João del-Rei e região caminharem para um novo modelo de desenvolvimento.


quinta-feira, 26 de maio de 2011

>>> protesto >>>

Dia HISTÓRICO em São João

Esterilização em massa. Espaço para que animais recolhidos sejam tratados e doados, ao invés de canis que se transformam em caros depósitos de bichos. Audiência pública para tratar de proteção animal e meio ambiente. Parcerias com a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e Sociedade Protetora dos Animais. Parece incrível, mas é verdade: os representantes eleitos pelo voto popular assumiram esses compromissos na tarde de 24 de maio de 2011. Quem ouviu a reunião da Câmara no dia 10, quando a vereadora Sílvia Fernanda, em ato infeliz, sugeriu matar animais soltos na rua, deve estar surpreso.

A "Caminhada pelos animais: vida sim, matança não", organizada pela Sociedade Protetora, partiu da Igreja de São Francisco de Assis. O santo protegeu muito bem os animais, e conseguiu reunir mais de 100 pessoas, que levavam faixas e muita disposição, ao lado de dezenas de jornalistas e fotógrafos. Já na Câmara, numa demonstração clara do tamanho do problema animal na cidade, pelo menos dois cães de rua subiram as escadas e participaram da reunião. Um deles seguiu a presidente da Sociedade, Mara Souto, até a tribuna, sentando-se, depois, próximo a Sílvia Fernanda.


Apesar de alguns ânimos exaltados, não houve confusão, e tanto os representantes das associações protetoras quanto os vereadores conseguiram falar para um auditório que comportava gente até nas janelas. Mara Souto arrancou aplausos ao citar as experiências que já presenciou e os compromissos que esperava dos vereadores, prontamente apoiados pelo presidente da Câmara, Mauro Duarte.


A vereadora que causou polêmica defendeu-se explicando que nunca incluiu cães e gatos em sua proposta, conforme Contrato Natural já havia publicado em matéria anterior. Desculpou-se pelas declarações, reconheceu a bondade de pessoas que abdicam de parte de suas vidas pelos animais, e atacou parte a imprensa e os inimigos políticos, que estariam promovendo uma "caçada às bruxas".


Seja pela necessidade de recuperar a imagem de vergonha que São João carregou com o episódio, seja por não haver mais espaço para medidas arcaicas após a mobilização popular, conquistas históricas foram assinadas ou estão em pauta. Da Prefeitura, a promessa de um espaço para controle de zoonoses supervisionado por profissional da UFSJ de confiança dos protetores. Da Câmara, promessa de apoio à esterilização em massa, que já passou a contar com uma parceria entre Prefeitura e Universidade através do projeto Amigos de Quatro Patas; e o pedido da audiência para tratar do assunto.


Após 20 anos de luta, finalmente os protetores conseguirão avanços históricos? Tudo indica que sim. Bom para os animais, o meio ambiente, a limpeza urbana e a saúde pública. O capítulo do dia 24 foi surpreendente - positivamente. A menos que surpresas negativas aconteçam nos próximos capítulos, todos sairão ganhando com o abandono de práticas ineficazes e antiéticas como a matança de animais.


Texto: Rogério Alvarenga

Imagem: Analu Sousa

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Carta à Câmara dos Vereadores, à Sociedade Protetora dos Animais e aos cidadãos de São João del-Rei

São João del-Rei tem vivido, nas últimas semanas, após as polêmicas declarações da vereadora Sílvia Fernanda e a imediata reação da sociedade, consequências de um município que cresce vivendo contradições entre o moderno e o arcaico. Típico do barroco, essa fantástica história preservada em monumentos extraordinários como a Igreja São Francisco de Assis. E as contradições não ficariam de fora no âmbito das políticas públicas.

O MODERNO: as reuniões da Câmara são gravadas e disponibilizadas na internet, no site do Instituto Apoiar, acessíveis, portanto, à imprensa e aos cidadãos. Da Universidade Federal instalada no município, surgem projetos como o "Amigos de Quatro Patas", que propoem medidas eficazes para a saúde pública, já implementadas em cidades desenvolvidas e recomendadas pela Organização Mundial da Saúde.

O ARCAICO: São João enfrenta sérios problemas relacionados à limpeza e à saúde pública. Boa parte do lixo urbano é depositada nas calçadas; diversos animais, como cães, cavalos e até porcos cuidam de espalhá-los pelas calçadas e ruas. A saúde pública não dá orgulho: no Índice Mineiro de Responsabilidade Social, item saúde, São João aparece em 657° lugar entre 853 municípios do estado.

É nesse panorama de contradição entre o moderno e o arcaico que o nome de São João del-Rei aparece, hoje, na língua de diversos brasileiros, revoltados com as declarações da vereadora Sílvia Fernanda, no dia 10 de maio, durante reunião da Câmara Municipal, gravada e disponibilizada na internet. Ecoaram pelo país frases como "tem animal solto na rua, tem que matar"; "eu quero que o animal seja apreendido, o dono tem 48 horas para tomar a providência; não tomou, mata". Mais à frente, trecho detalha os animais que deveriam ser mortos: "eu quero fazer um projeto de lei para matar cavalo, burro, égua, vaca, porco. Achou na rua, falou com o dono, 48 horas não providenciou, mata."

A indignação tomou conta de cidadãos em São João, em Minas, no Brasil. Até mesmo boicotes à cidade foram sugeridos: "São Francisco de Assis, proteja os animais de São João del-Rei; enquanto os santos se entendem, evite o turismo na cidade". A TV Campos de Minas, local, dedicou dez minutos às falas da vereadora e à opinião de ambientalistas e cidadãos diversos. Pelas redes sociais e no blog da vereadora, estouram protestos.

Apesar do momento de revolta, protestos e manifestações contra as declarações, São João tem a grande chance de superar quadros sociais e ambientais incompatíveis com o século XXI. Só depende do papel que exercerão, a partir de desse momento, a vereadora, a Câmara Municipal, a Prefeitura, a Sociedade Protetora dos Animais, os ambientalistas e todos cidadãos.

DA VEREADORA, ESPERA-SE reconhecer que as declarações foram infelizes. Não adianta culpar a reportagem de televisão, ou o radicalismo dos defensores dos animais: a reunião está gravada. Não adianta esclarecer que os cachorros serão poupados, afinal, cavalo, burro, égua, vaca, porco, também merecem nosso respeito.

Da vereadora, espera-se também que não abandone a luta pela solução dos problemas do lixo, dos animais soltos na rua e da saúde pública. O verdadeiro pedido de desculpas está nas ações, e não nas palavras. Reconhecemos a gravidade desses problemas e devemos buscar soluções juntos. Precisamos de projetos que garantam educação, fiscalização e punição aos donos dos animais que não cumprirem a guarda responsável. São João precisa de lixeiras bem planejadas, que evitem o depósito de lixo nas calçadas. O que fazer com os terrenos baldios e as calçadas abandonadas, por onde se proliferam ambientes propícios aos vetores de doenças?

DA CÂMARA MUNICIPAL E DA PREFEITURA, ESPERA-SE que também reconheçam a infelicidade das declarações, mas apoiem a solução dos problemas apresentados. E as soluções precisam ser apresentadas, aprovadas, colocadas em prática, com rapidez. Do contrário, continuaremos padecendo com a fúria, a indignação e o boicote à cidade.

DOS PROTETORES DE ANIMAIS, AMBIENTALISTAS E CIDADÃOS EM GERAL, ESPERA-SE que troquem a revolta contra a vereadora pela chance de conseguir, junto à Câmara e à Prefeitura, garantias de medidas realmente eficientes para o problema da saúde pública, do lixo, dos animais soltos na rua. Que na reunião do dia 24 saiam modificações nos projetos de lei já em andamento; sejam assinados compromissos viáveis para tirar o lixo das calçadas, esterilizar animais em grande escala, fiscalizar os donos dos animais e reduzir drasticamente o número de terrenos baldios que proliferam vetores. Que na caminhada do dia 24, São João mostre o poder de mobilização, mas especialmente o poder de negociação e da bandeira da paz, para humanos e não-humanos.

Por mais paradoxal que seja, essa é a hora de unir forças. Mas o que é o barroco, senão um paradoxo constante?

Contrato Natural
20 de maio de 2011

quinta-feira, 19 de maio de 2011

"Tem ANIMAL solto na rua, tem que MATAR"
Declaração de vereadora de São João del-Rei provoca reação pelo país

Assunto do dia nas esquinas de São João del-Rei, cidade histórica e turística de Minas Gerais. Cobertura de jornais, rádios e TV local. Centenas de comentários em redes sociais. De São Paulo, vem o pedido: “São Francisco de Assis, proteja os animais de São João del-Rei; enquanto os santos se entendem, evite o turismo na cidade”. As declarações da vereadora Sílvia Fernanda, durante reunião da Câmara Municipal no dia 10 de maio, a favor da matança de animais de rua, provocaram reação imediata da população.

As reuniões são gravadas semanalmente, e os vídeos já circulam pela internet. Como forma de solucionar o grave problema dos animais de rua no município, a vereadora sugere: "tem animal solto na rua, tem que matar". Poucos minutos depois, prossegue o raciocínio: "eu quero que o animal seja apreendido, o dono tem 48 horas para tomar a providência; não tomou, mata". Sílvia detalha os animais que deveriam ser mortos: "eu quero fazer um projeto de lei para matar cavalo, burro, égua, vaca, porco. Achou na rua, falou com o dono, 48 horas não providenciou, mata."

São João del-Rei enfrenta, há anos, problemas relacionados à limpeza e à saúde pública. Boa parte do lixo urbano é depositada nas calçadas, até que a coleta municipal recolha e deposite no lixão - a cidade não dispõe de aterro sanitário, e o lixo é disposto a céu aberto, como mostra pesquisa do Instituto Apoiar. Antes dos resíduos chegarem ao lixão, cães, cavalos e até porcos cuidam de espalhá-los pelas calçadas e ruas. A saúde pública não dá orgulho: no Índice Mineiro de Responsabilidade Social, item saúde, São João aparece em 657° lugar entre 853 municípios do estado.

Uma das propostas para redução do problema de animais de rua vem de estudantes e professores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ): o "Amigos de Quatro Patas" tem como objetivos recolher, castrar, tratar e encaminhar cães abandonados para adoção. Nas redes sociais, é possível conhecer mais sobre o projeto.

Na terça, 17, representantes de associações em defesa dos animais, professores, estudantes e cidadãos diversos levaram faixas de protesto para a entrada da Câmara. Na próxima terça, 24, está marcada a "Caminhada pelos Animais: vida sim, matança não!", saindo da Igreja São Francisco de Assis, às 15h, em direção à Câmara. A presidente da Sociedade Protetora dos Animais do município, Mara Nogueira, está inscrita para falar durante a reunião dos vereadores, que começa às 16h e é aberta ao público. As reuniões são gravadas e disponibilizadas no site www.institutoapoiar.org.br.

Texto e imagem por Rogério Alvarenga

segunda-feira, 16 de maio de 2011

>>> CArrOS >>>

Pela ALTA do preço da gasolina
Carro "popular" gasta mais de 12 mil reais por ano, diz estudo. Maior parte da população depende de transporte coletivo

Desde abril, diversos movimentos contra o alto preço da gasolina repercutem ao longo do país. Abastecer apenas 50 centavos é uma das ideias. O que não aparece na pauta são os maiores prejuízos provocados pelo carro individual: trânsito caótico, sedentarismo, poluição, ruídos e...

... 12 mil reais por ano. Isso se o carro for "popular" e rodar dez quilômetros diários. É o que mostra pesquisa do professor de finanças pessoais, Samy Dama, da FGV, publicada em reportagem da Folha de São Paulo. Não à toa, apenas 23% da população brasileira usa o carro como meio de transporte, segundo o Ipea. Mesmo assim, é a maior causa do trânsito caótico, que já mata mais do que homicídios.

Realmente popular, o transporte coletivo, ainda precário e longe dos holofotes, alcança 65% dos brasileiros que vivem nas capitais. Mas o preço da gasolina parece dar mais audiência à televisão. Contra o alto preço, a revolta explode nas redes sociais:

"O respeito ao brasileiro morreu." É verdade, morreu, mas não pelo preço da gasolina. Se cada litro custasse um real, não ganharíamos respeito, e sim mais trânsito (e mortes), sedentarismo (e mortes) e poluição (e mortes). O respeito morreu com a péssima qualidade do transporte coletivo, "popular", e das condições para ciclistas e pedestres.

"Não posso deixar de usar carro." A menos que o autor da frase tenha limitações físicas severas ou trabalhe com transporte de mercadorias, está na mesma situação de 65% da população: precisando de um transporte coletivo de qualidade.

A revolta do buzu e a bicicletada estão logo ali, precisando de apoio, televisão, leis, educação, pressão.

Texto: Rogério Alvarenga
Imagem: transportehumano.blogspot.com
Dados: Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Comunidade e tombamento
Preservação da Serra de São José, que alcança cinco municípios mineiros, depende de mobilização e leis

por Ingrid de Andrade

“A preservação se faz com ação, com trabalhos planejados, monitorados e avaliados. Apenas com ‘leis’, no papel, não se preserva nada”. Essa declaração foi dada por Luiz Cruz, coordenador do projeto pelo tombamento federal da Serra de São José. Para ele, o apoio da sociedade e a força dos movimentos é fator determinante para o tombamento. Área de Proteção Ambiental (APA) desde 1990 e Refúgio Estadual de Vida Silvestre desde 2004, a Serra agora está em processo de tombamento federal. O relatório final que integra o processo, já foi encaminhado ao Ministério da Cultura, em Brasília, e deve ser apresentado na próxima reunião do Conselho Nacional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A próxima reunião do Conselho deve ocorrer nos próximos meses. "Ainda não temos notícias de quando será exatamente, mas ponho fé que desta vez vamos conseguir”, afirma Luiz Cruz. Com o tombamento federal a Serra de São José ganha status de Patrimônio Nacional. Este novo bem, protegido pelo Iphan, deverá receber projetos que considerem aspectos como a biodiversidade, além da importância histórica e cultural. Fauna, flora, aspectos geológicos e geográficos, mapeamento da área a ser tombada e da área de entorno fazem parte do relatório.


Apesar do apoio da comunidade na luta pela preservação da Serra, é preciso uma legislação com a participação de órgãos estaduais e federais, acredita Luiz Cruz. O processo de tombamento federal da Serra de São José foi instaurado em 1979, a partir de uma solicitação do Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes (IHGT). No decorrer desses anos, a luta pela preservação da Serra de São José e sua biodiversidade resultou na criação de algumas unidades de conservação ambiental, porém a importância histórica ainda carece de reconhecimento.


Para a preservação da área, o projeto conta com adeptos da comunidade, além do apoio de diversas entidades, como o Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes (IHGT), o Corpo de Bombeiros Voluntários de Tiradentes, o Instituto Cultural Biblioteca do Ó, a Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade/UFMG, a Oficina de Teatro Entre & Vista e o Centro Cultural Yves Alves Sesi/Fiemg. A Prefeitura Municipal de Tiradentes e a Câmara Municipal também apoiam a campanha pelo tombamento federal. “É importante registrar que a imprensa, de maneira geral, tem apoiado o processo, e a Rede Globo Minas fez até um programa especial sobre nossa campanha”, afirma Luiz Cruz.


De acordo com Luiz Cruz, o processo conquistou a participação e envolvimento da comunidade, inclusive com a participação de alunos e professores da UFSJ, especialmente do curso de Geografia. Em março, alunos do Departamento de Geografia da UFSJ foram convidados pelo Centro Cultural Yves Alves a participar de uma caminhada ecológica com alunos da rede pública de ensino de Tiradentes, em companhia de professores de biologia e geografia. Para a estudante de Geografia, Janaína Cardoso, a caminhada foi gratificante por entrar em contato com os alunos e poder colocar em prática as vivências da sala de aula. Janaína acredita que, com essa iniciativa, os estudantes têm a oportunidade de interagir com o meio ambiente e perceber a seriedade da preservação, além de ser importante para o processo e tombamento da serra, pois auxilia na mobilização da comunidade.


Segundo o Iphan, o patrimônio cultural não se restringe apenas a imóveis oficiais isolados, igrejas ou palácios; sua concepção contemporânea se estende a imóveis particulares, trechos urbanos e até ambientes naturais de importância paisagística. A área da Serra de São José, que abrange os municípios de São João del-Rei, Tiradentes, Santa Cruz de Minas, Prados e Coronel Xavier Chaves, todos em Minas Gerais, acolhe biomas de Mata Atlântica, Cerrado e Campos Rupestres, e ainda não obteve o título de Monumento Natural Nacional.

Imagem de caminhada pelo tombamento: Rogério Alvarenga

terça-feira, 15 de março de 2011

Nós amamos a energia nuclear
Nós tememos a energia nuclear

por Rogério Alvarenga

Entre 1986 e os anos 2000, o homem temia a energia nuclear. A lembrança do desastre de Chernobil, há 25 anos, atormentava a mente das pessoas. A força da radiação, centenas de vezes maior que as bombas atômicas da Segunda Guerra, não permite concluir o número de mortos e doentes - afetados até hoje. No Brasil, em 1987, a contaminação por césio 137, usado na radioterapia, provocou pelo menos quatro mortes, mais de cem doentes e milhares expostos à contaminação, em Goiânia.

No novo milênio, o homem vangloriava a energia nuclear. "A energia nuclear é a forma mais limpa e a grande solução para os problemas ambientais." Calma: essa frase não é nossa. É apenas uma ideia que começou a circular na última década, diante de um mundo em crescimento que demandava cada vez mais energia para... produzir. Não importa o quê, o importante é produzir. E a energia nuclear passou a ser a grande amiga. Segura, limpa, dominada pelo animal mais inteligente que vive na Terra - e que, às vezes, não sobrevive à sua própria inteligência.

No dia 11 de março de 2011, parece ter iniciado um novo ciclo de pensamentos da desmemoriada raça humana. Com os terremotos e tsunamis no Japão, a situação da usina nuclear de Fukushima colocou o mundo em estado de atenção. Governo japonês e ONU rapidamente adiantaram que não havia qualquer risco de contaminação perigosa à saúde pública, apesar das explosões dos reatores e da falta de energia elétrica no local para manter o resfriamento dos mesmos. Quatro dias após, as informações mudaram. As autoridades passaram a admitir os riscos e a tomar medidas mais severas.

Os próximos dias serão decisivos para milhares de seres humanos, animais e outras formas de vida que habitam o entorno da usina, mas especialmente para o mundo. Por mais paradoxal que pareça, a ampliação da tragédia nuclear no Japão pode adiantar essa nova visão do homus tragoedia sobre a energia nuclear. Ninguém torce para que tenhamos uma área contaminada por décadas - ruim para humanos, animais e meio ambiente como um todo. Mas vale torcer para que tenha se encerrado o ciclo da adoração à energia nuclear.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

>>> doação >>>

Reconstruindo
Cruz Vermelha recebe doações para a reconstrução da zona serrana do Rio. Precisa-se de voluntários que "busquem os problemas" onde eles estiverem.

Acompanhamos, no último dia 21, a entrega de um caminhão de donativos para a base avançada da Cruz Vermelha, em Guapimirim (RJ). Antes da chegada, o cenário da zona serrana do Rio já mostrava resquícios da maior tragédia climática do país, como vários trechos de montanhas marcados por deslizamentos e depósito de entulhos nas laterais das rodovias. A boa notícia é que bases como a de Belo Horizonte e dos municípios atingidos pelas chuvas estão lotadas de materiais.

“O Brasil botou pra quebrar”, disse José Cláudio Souza, coordenador da base de Guapimirim, ao mostrar a grande quantidade de alimentos e água recebida. A urgência agora é ter à disposição voluntários para dar atendimento constante às vítimas e “procurar os problemas”, como por exemplo os condutores de veículos de tração nas quatro rodas, que alcançam áreas inacessíveis para automóveis comuns e têm exercido papel essencial na ajuda às famílias isoladas.

José Cláudio é técnico em segurança do trabalho com especialização em construção civil e afirma, sem demonstrar qualquer dúvida, que as proporções da tragédia seriam reduzidas “de forma gigantesca” se houvesse planejamento e cuidados básicos na urbanização e ocupação do solo. “Há cidades em que qualquer construção, em qualquer local, é autorizada e reconhecida pelos poderes públicos”, ilustra. Para ele, o número real de mortos pode ultrapassar a marca de dez mil, já que, em muitos locais, dezenas de famílias inteiras foram soterradas e não há qualquer possibilidade de haver resgate.

Uma lição amarga, mas que pode ser entendida por autoridades, instituições, profissionais e cidadãos em geral. “Há muitas formas de ajudar nossa população além da doação de materiais”, reforça o voluntário da Cruz Vermelha, apontando para uma sociedade que planeje seu desenvolvimento e busque as soluções para os problemas.

Texto e imagens: Rogério Alvarenga

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Bebida mata mais que HIV e violência, diz OMS
Quase 10% das mortes de jovens estão relacionadas ao consumo de álcool

No dia da renúncia do ditador Mubarak, no Egito, uma outra notícia pode passar despercebida aqui no Brasil, embora divulgada nos principais meios de comunicação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou relatório que aponta o alto poder de destruição de uma droga muito festejada no Brasil - o álcool. Segundo os estudos, quatro em cada 100 mortes no mundo estão ligados ao consumo de bebidas. Esse número é tão representativo que ultrapassa as mortes por Aids, por tuberculose e por violência, e é especialmente grave entre jovens de 15 a 29 anos, quando atinge quase 10%.

Os malefícios das bebidas alcoolicas não são novidade na ciência. A OMS reforça o que médicos e cidadãos curiosos já sabem há um bom tempo: bebida pode provocar cirrose, doenças cardiovasculares, vários tipos de câncer e problemas psiquiátricos. As embalagens de cigarro já trazem essas informações. As propagandas de cerveja ainda trazem jovens bonitos, saudáveis e alegres bebendo.
A OMS sugere a regulamentação do mercado de bebidas, de forma ampla, o que envolve redução da demanda e restrições ao consumo por jovens e por motoristas.

Na contramão do debate cada vez maior sobre regulamentação das drogas, a Associação Brasileira das Agências de Propaganda (Abap) critica o cerco fechado à publicidade da cerveja. Em 2008, lançou um manifesto contra a proibição da propaganda. Na campanha, a Abap faz a seguinte comparação: "Querem proibir a propaganda de cerveja no Brasil. É o mesmo que proibirem a fabricação de abridores de garrafas no Brasil".

O relatório completo pode ser consultado no site da OMS (clique aqui).

Texto: Rogério Alvarenga
Charge: http://mundodoarthur.wordpress.com

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

>>> cinema, aspirinas e urubus >>>

Inquietações políticas na tela
Mostra de Cinema de Tiradentes leva ao público temas como drogas, enchentes e secas

Repleta de pré-estreias e homenagens, a 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes deixou como principal marca a discussão em torno de temas sociais, anunciada já na temática desta edição: "Inquietações políticas". Drogas, enchentes, secas, polícia, descaso dos governantes e desigualdade foram algumas questões levantadas por longas e curtas ao longo de nove dias de uma agradável overdose cinematográfica rodeada por montanhas e barroco.

Os perigos da bebida alcoolica são maiores do que os de muitas drogas ilícitas, como a maconha. É o que afirma o especialista britânico David Nutt, que coloca o álcool como a quinta droga mais perigosa, levando em conta danos físicos, sociais e dependência - a maconha não figura entre as dez. Essa é uma das questões levantadas pelo bem produzido "Cortina de fumaça", longa de Rodrigo Mac Niven. Surpreendente? Nem tanto, já que nos deparamos com a cirrose, os acidentes de trânsito, os vícios e as brigas proporcionadas pelo consumo exagerado, ainda que "social", da bebida. Mas, se isso não é novidade, por que o mercado do álcool é regulamentado e festejado, enquanto a maconha é proibida e antissocial?


Já as vítimas das enchentes e deslizamentos de terra, geralmente famílias de baixa renda, foram lembradas no documentário "Enchente", de Julio Pecly e Paulo Silva. Trata, especificamente, dos acontecimentos de 1996 no bairro Cidade de Deus, no Rio. Nem todas as imagens são de alta resolução, mas o fato de Julio ter vivenciado a tragédia, do tema estar em evidência após os acontecimentos na zona serrana, e do filme abordar o descaso das autoridades - e mesmo de alguns moradores - arrancaram aplausos do público. A cena mais aplaudida mostra uma sobrevivente lembrando que são os moradores da periferia que trabalham para dar conforto à classe média.


Enquanto uma parte da população sofre com a abundância de água, outra sofre com sua escassez. Mas o tema "seca" também pode reservar surpresas aos desavisados: no semi-árido nordestino, existe chuva suficiente para uma boa (sobre)vivência do cidadão. Esse é um dos aspectos abordados em "Sertão progresso", documentário de Cristian Cancino, que mostra ainda discursos de políticos favoráveis à transposição do Rio São Francisco, moradores (subestimados?) que acreditam no sucesso do empreendimento e o protesto através da greve de fome de um líder religioso.


Bem que as inquietações políticas poderiam ultrapassar as telas do Cine-Tenda ou Cine-Praça, armadas em Tiradentes, agradável cidade do interior de Minas: no evento com tema tão apropriado, não rodaram ônibus durante a madrugada. Segundo funcionários da empresa de transporte coletivo, a Prefeitura não autorizou. Inquietação elitizada?

Texto: Rogério Alvarenga
Foto: Analu Sousa


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

>>> chuva de solidariedade >>>

Campanhas arrecadam esperança para humanos e bichos
Diversas instituições e milhões de cidadãos se mobilizam para ajudar famílias afetadas pelas chuvas no Rio e em Minas. Animais sobreviventes pedem um lar

“Ações humanitárias não têm bandeiras nem limites. São seres humanos que não têm nada, nem água para beber”. A frase, dita pelo coordenador de uma das campanhas de arrecadação, reflete bem a situação extrema que milhares de pessoas estão vivendo após décadas de ocupação desordenada e dias de chuva na região serrana do Rio de Janeiro e no sul de Minas Gerais. Éverton Ferreira, que coordena a campanha encabeçada pela Universidade Federal de São João del-Rei, no interior de Minas, espera que a solidariedade humana seja colocada em prática. Nesse contexto em que milhares de famílias humanas não têm nada, o que sobrou para suas famílias caninas e felinas?

Organizações não-governamentais e protetores dos animais colaboram como podem para reduzir o sofrimento daqueles que, muitas vezes, são esquecidos pela mídia e pelos cidadãos. A WSPA e ongs afiliadas, com recursos de doação, distribuíram 15 mil reais para duas ongs em Itaipava, uma em Teresópolis e uma em Friburgo; 12 toneladas de ração para cães e uma tonelada para gatos; medicamentos e outros produtos para atender a oito mil animais. Mas a grande doação quem pode fazer é o cidadão comum: conhecer as pessoas que abrigam os animais, botar as mãos na massa e conseguir adotantes - ou até mesmo adotar um animal. A ong Estimação lembra que quanto mais animais forem adotados, mais espaço terão para abrigar outros.

As fortes chuvas que atingiram a região serrana do Rio neste início de ano, aliadas à ocupação de risco - inclusive de residências de alto padrão -, provocaram enchentes, deslizamentos de terra e deixaram isolados vários bairros em pelo menos 12 municípios. Já foram confirmadas mais de 800 mortes humanas, e o número tende a aumentar, devido à quantidade de desaparecidos na região. Em Minas Gerais, são 107 municípios em estado de emergência.

Instituições e governos se mobilizam para arrecadar e levar donativos para os sobreviventes. Dezenas de milhares de pessoas perderam suas casas ou precisaram abandonar seus lares. Autoridades alertam que as doações devem ser feitas somente para instituições reconhecidas ou órgãos oficiais, para garantir que os benefícios alcançarão as famílias necessitadas.

Texto: Rogério Alvarenga
Imagem: Ong Estimação